O livramento
Livramento
Estou no patíbulo
A um passo do carrasco
Com seu machado em riste;
Há sangue em seus olhos;
Da boca espumante
Pinga uma gosma branca, leitosa;
A multidão espera
Tal qual em um coliseu romano;
Minha cabeça sobre o cepo
Também espera o golpe fatal.
Atento, o rei na sacada,
Prepara-se para o sinal...
O silêncio ensurdece a alma.
Os milhares de olhos aflitos,
Sedentos do sangue,
Não se importam com a inocência
Com a culpa ou clemência.
Os meus, com rara dificuldade;
Conseguem ver quando o rei
Faz o sinal de positivo;
Fecham-se pela última vez
E para sempre;
A sensação do gosto de sangue Já
Desce pela garganta decepada.
E a cabeça rolando geme a agonia;
O grito da multidão...
Mata! Mata! Mata!
De repente, um baque surdo!
Meus olhos abrem-se devagar...
Esperavam ver meu corpo
Se contorcendo de espasmos mortais,
Porém, o que vê?
A cabeça do carrasco,
Que urra e se debate de agonia
Babava ainda mais, roncava como porco.
Um ataque de coração.
As algemas foram soltas,
A multidão gritava como a galera
Na hora do gol! Bradava! saciada.
Esqueceram de mim.
A morte do carrasco lhes deu o prazer
Que esperavam, aplacou-lhes a ira.
Eles, de mim nada sabem;
Aliás, nem eu mesmo sei muito bem.
Meu pecado era ser cristão,
E, ao mesmo tempo,
Ser gente honrada como todos eles.