Motivos
Pergunto-lhes:
com base em quê
julgam meu escrito?
De qual critério
valem-se para analisar minha escrita?
Qual o crivo,
para dizerem se o que abordei,
se como tomei, se quando dei
foi bom ou ruim?
Minha ortografia?
Pois bem, certo vocês.
Minha sintaxe?
Ora, contem minhas orações.
Minha gramática?
Sim! Traguem-a!
Minha métrica?
Não estão vendo, ou são cegos?
Ela está aqui, está ali,
a cada verso se desembaraça
unica e originalmente sempre novamente.
Minha pontuação é rica, perceberam?
Rimas?
Façam-me o favor. Nestas eu cuspo.
Minhas sílabas não foram
feitas para serem contadas:
sem escanção, por favor.
Elas são únicas, dúbias e duplas
quando bem entendem. Elas são livres.
Minha métrica chama-se "única",
e meu estilo, "peculiar",
inspirado por expoentes e mesclado,
tornando-se muitos em um.
Mas, pergunto-lhes:
vocês perscrutam minha pena
e minha tinteira a fim de quê,
sendo que não consideram
se nela contêm ou não
a verdade e a vida?
Fiquem com seus concursos.
Sim, fiquem com eles.
Não me adequarei.
O motivo de eu escrever?
Escrevo e transcrevo
senão pelo Eu sou
e por quem sou eu.
Não são motivos suficientes?
Não são o bastante?
Escrevo a poesia
senão por quem Ele é,
e por quem eu não sou.
Transcrevo minha maldita
e meu maldito - senão por quem sou.
Traduzo e escrevo minha salvação e libertação:
senão por quem Eu sou é.
Minha escrita é sintática,
linguista, semântica, traduzida;
minha transcrição é transcrita,
literária, contextual, artística,
de gênero, estilística, gramatical;
minha tradução é verbal, morfológica,
poética, científica:
todas juntam-se, formando uma só.
Minha escrita é recebida,
inspirada, iluminada;
minha escrita é, contudo,
da verdade.
Ela vem e vai à verdade,
não ousando desviar.
São estes meus motivos,
e nenhum outro senão estes:
que o Eu sou seja escrito,
que a verdade seja escrita,
quem eu sou seja traduzido.
Permaneço no terror e na alegria,
no tremor e na satisfação.
Fiquem, sim, fiquem
com seus concursos.
Eles desprezam o Eu sou,
a verdade; não se importam
com quem eu realmente sou:
importam-se apenas
com quem eu não sou,
fingindo-me e trasvestindo-me.
Tais, sou eu quem desprezo.
E muito prezo pelos concursos
da verdade e vida:
quem é o menor, o menos eu,
o mais despedaçado.
Cesare Turazzi, em tudo capacitado pelo Altíssimo.
[29/08/13]