Dar-se
Dou-me ao partido contrário,
dou-me às pérolas;
dou-me aos porcos, aos cães.
Dou-me à roda de escárnio, escarnecedora;
aos néscios, cuspidores, zombadores:
a estes [eu] me dou.
Dou-me aos injustos, aos ladrões,
dou-me aos de berço encrostado no esterco.
Dou-me aos sem fé,
aos perdidos na universidade.
Dou-me aos lírios do campo,
às cegonhas, às aves de rapina.
Dou-me à palha, à conversa filosófica;
dou-me à educação ecumênica,
ao respeito idólatra.
Dou-me aos réprobos:
em respeito, e não desrespeito;
em amizade, e não em discordância,
em mentiras, abraços, gracejos, ósculos,
e não em verdade e amor.
Como de triste relato, e não vanglória:
dou-me às risadas, à falta de manifestação.
Dou-me ao ecumenismo, à língua cortada,
dou-me à trombeta abafada, à tocha apagada.
Eu me dou ao devaneio, à roda que lembra
o meu dar aos impiedosos.
Dei-me ontem, anteontem, outrora.
Dei-me... dei-me sim.
Ah, SENHOR! Eu me dou aos maus!
Dê-me aos bons, leva-me a eles,
a ir até eles, a ter com eles, peço-te!
SENHOR, te peço eu, como sujeito,
dá-me aos justos, aos de fé;
dê-me os que têm olhos,
que têm ouvidos, que têm boca,
aos que entendem o joio & trigo,
leva-me a eles, peço eu.
Então, peço-te:
leva-me a dar-me aos pés,
a derramar o unguento,
à humilhação, ao arrepender-se;
dê-me não aos porcos, mas sim à mesa.
Dá-me às migalhas, e não aos cães...
dá-me, SENHOR, peço-te,
aos pães - estes sólidos, maduros, de fé.
Cesare Turazzi, em tudo capacitado pelo Altíssimo.
[06/06/13]