LIBERTINO CORAÇÃO
É a estrutura do mundo sagrado,
reflexo dos deuses, espasmódica contorção,
triplo querer e desquerer uma noção
fria das coisas essa dúvida incerteza.
É um descontente prazer, precipício de medos
de perdas, de assombros, de coisas repentinas,
desejos atormentados e risos escuros.
Todas as vezes que eu rebento em flor
inssurge em meu peito o clarão, o lampejo
do sagrado, sempre a desamarrar o que
está torto em mim, de agora, adiante,
o que não avança mas se completa em ser.
Invento o futuro na medida mesma da desmedida,
do vazio preenchido nas ânsias, noites insones,
querer aqui preso, mas amor que não existe
é esse libertino coração, essa felicidade repleta,
esse odor de coisas miúdas, inefáveis,
as que transcendem do medo e da carne.
Palavras não atendem ao chamado que urge
da música e da alegria e do gozo imenso.