O QUE ME ASUSTA
Eu sempre tive coragem,
Acho que ainda resta alguma,
Se não acabou de sacanagem
Numa de minhas aventuras.
Aventurei-me por tantos terrenos,
Fiz coisas sem pensar,
Enfrentei muitos perigos
Que não deveria enfrentar.
Eu me achava indestrutível,
Uma rocha muito sólida,
Tinha corpo incorruptível,
Saúde de invejar.
Mas um dia as coisas mudaram,
De repente eu era frágil,
Um cristal muito fino,
De tão pouca serventia.
Eu ainda tenho chão,
Mas agora piso com cuidado,
Onde coloco minha mão,
É em altura confiável.
Sigo a vida, mesmo com medo,
O futuro começa agora,
Não sei o que me espera,
Mas continuo, sem saber o segredo.
Hoje é mais um dia,
Amanhã não sei.
Se tenho alguma alegria
É porque dela fui o rei.
Confuso, me cuido,
Sou humano, pode crer,
De nada mais me iludo,
Tenho desejo grande de viver.
Sou poeta, talvez um louco,
Um tipo meio ausente,
Me contento com tão pouco,
Não me confunda com indiferente!
As palavras vêm e vão,
Estão longe e perto,
Dentro do meu coração
Não há lugar para o deserto.
Me assusta, sim, o resto,
Do qual não sei o que há,
Esse manifesto
É só para não me calar.