Dor nas costas

O mundo vai ficando pesado, talvez seja a questão ambiental ou paradoxo filosófico

Eu que não entendo quase nada disso carrego tudo nos ombros

Não quero que me falte nada

Me importo com a concretude

Mas me comovo com os poemas:

As dívidas, as dúvidas, o açúcar, a pimenta(...)

Tudo é colocado na balança;

Morte e vida Severina

O corvo, Alcauã

Cortiços e noites na taverna

Canções antigas e suas ideias

Ideais caducos e despatriados

Enchem os espaços vazios e completam o fardo a ser transportado. O volume assusta

Os anos passam e vamos acumulando tarefas, compromissos sociais e pessoais minam qualquer forma de aventura

Com a cara dura abrimos sorrisos pontuais, enfrentando velórios e carnavais com a mesma disposição

Pessoas próximas aparecem poucas vezes

A distância do universo vai chegando aqui no nosso mundo

Matérias escolares, discursos militares, lista do supermercado, receitas, recibos, recados, tudo isso colocado no liquidificador e deglutido sem nenhum exame

Por falar em exame, como vão suas costas?

O meu bico de papagaio já não fala mais

Meu colesterol denuncia meu amor a carne vermelha

Minha vértebra envergou com o peso dessas coisas

Juro que eu queria ser leve

Não me importar em demasia

Me causa agonia e olheiras reveladoras o descaso público com as crianças

Tiraram do dicionário o termo legado e em seu lugar botaram o sinônimo de otário

Eu sou um, minhas costas doem e eu aqui escrevendo besteiras

Deveria procurar o velho Dr

Ele com as pilulas da felicidade me anestesiou uma vez

Fiquei parecendo uma canção do Pink Floyd

Por isso nunca mais o procurei

Hodiernamente, vivemos o império medicamentoso

Remédios pra tudo e de todos os preços

Farmácias cheias de remédios e o mundo cada vez mais doente

Mas confesso que esse peso está incomodando

Se eu tivesse um livro de auto-ajuda certemante não estaria assim

Faria logo uma lista de listas

Venderia pros bestas e compraria o melhor guindaste possível e com ele resolveria o preso do mundo nas costas

Mas minha ética não deixa, ela não dorme

Parece uma onça que sempre me morde quando estou no meio fio

O que fazer com todo esse volume ?

Talvez aumentar o volume e curtir um velho Rock

Talvez pegar a estrada de bicicleta e pedalar até cansar

Tenho que achar uma forma de relaxar

Não me condenar nos meus inúmeros erros

Sou apenas um caboco pósmoderno com o peso do mundo nas costas

Talvez no fim do mês eu visite o velho Dr se algum dinheiro sobrar

Talvez eu revele pra mulher amada o meu intenso amor

E ela me dê um tapa que me faça cair e tudo despencar

Talvez eu jogue tudo pro alto e enfie o pé na jaca sem medo de algo quebrar

Só sei que tenho que dar um jeito nas costas, nas contas, na carreira, no caminho(...)

Arrumar alguma forma de carinho

Me sentir menos sozinho

Por enquanto, eu sigo a jornada

De cara amarrada, com algumas cicatrizes

Uns dias mais alegre

Noutros, um pouco triste

Só sei que a sina é sempre um sinal

Sigo sempre em frente

Um dia começará o meu carnaval

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 23/10/2024
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