No rio da certeza

Entrei nesse rio algumas vezes,

as águas mudando como a vida.

Cada mergulho no fundo, um silencio distante,

cada correnteza, uma partida e novas vindas.

Ninguém pode entrar duas vezes no rio,

quando se mergulha novamente

não vai encontrar a mesma água e o mesmo ser,

as águas fluem...

E o tempo?

O tempo faz seu papel

quebrando as mínimas partículas de vida.

O tempo passa e eu penso demais

e mesmo assim o tempo sempre se entrega.

E eu, sempre nova, sempre antiga,

carrego no peito um sonho que virou em formato de tela.

Esse verbo "amar" é uma arte, um equilíbrio,

um gesto de entrega dos dois lados, um ato de fé,

mas o orgulho, como pedra, é vil,

pode desviar o curso

cortar cada esquina

quebrar o que é.

Mas não se vive sem orgulho.

A lição dos erros que não se repete,

jamais abrir o peito e me entregar por completo,

mesmo que a sabedoria se esconde no perdão

pois entender o outro é um convite,

e em toda forma de amar, encontramos a direção.

Porém, evitar a precipitação se tornou minha prevenção,

incluindo apenas em meus juízos aquilo que se apresenta claramente

ao meu espírito, sem espaço para mais nenhuma dúvida

até que eu tivesse a certeza de nada omitir.

Mas há dias em que a sombra pesa,

[e como pesa...]

E o coração, uma âncora a mais,

que seguro junto com cada mergulho a fundo,

a saudade se mistura à tristeza,

mas navegar é preciso,

é viver entre os ais e cais.

Ao olhar para o rio que passa

recordo que nada é igual, tudo se vai,

mas na correnteza, aprendi a graça

de amar, mesmo quando o orgulho não cai.

Anna Gonçalves
Enviado por Anna Gonçalves em 10/10/2024
Reeditado em 04/11/2024
Código do texto: T8170253
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.