No rio da certeza
Entrei nesse rio algumas vezes,
as águas mudando como a vida.
Cada mergulho no fundo, um silencio distante,
cada correnteza, uma partida e novas vindas.
Ninguém pode entrar duas vezes no rio,
quando se mergulha novamente
não vai encontrar a mesma água e o mesmo ser,
as águas fluem...
E o tempo?
O tempo faz seu papel
quebrando as mínimas partículas de vida.
O tempo passa e eu penso demais
e mesmo assim o tempo sempre se entrega.
E eu, sempre nova, sempre antiga,
carrego no peito um sonho que virou em formato de tela.
Esse verbo "amar" é uma arte, um equilíbrio,
um gesto de entrega dos dois lados, um ato de fé,
mas o orgulho, como pedra, é vil,
pode desviar o curso
cortar cada esquina
quebrar o que é.
Mas não se vive sem orgulho.
A lição dos erros que não se repete,
jamais abrir o peito e me entregar por completo,
mesmo que a sabedoria se esconde no perdão
pois entender o outro é um convite,
e em toda forma de amar, encontramos a direção.
Porém, evitar a precipitação se tornou minha prevenção,
incluindo apenas em meus juízos aquilo que se apresenta claramente
ao meu espírito, sem espaço para mais nenhuma dúvida
até que eu tivesse a certeza de nada omitir.
Mas há dias em que a sombra pesa,
[e como pesa...]
E o coração, uma âncora a mais,
que seguro junto com cada mergulho a fundo,
a saudade se mistura à tristeza,
mas navegar é preciso,
é viver entre os ais e cais.
Ao olhar para o rio que passa
recordo que nada é igual, tudo se vai,
mas na correnteza, aprendi a graça
de amar, mesmo quando o orgulho não cai.