A POESIA DE CECA EM MECA
“Em busca da Arte Perdida”
No tempo dos nossos Avós –
Talvez duas ou três gerações –
Sentia-se cá dentro de nós
O fervilhar das emoções.
- Que é que tu queres ser um dia?
Perguntava minha avozinha,
Em doce voz feita magia,
Ela que era avó e madrinha.
- Não sei o que quero, avozinha,
Os meus pais querem-me doutor,
E tenho qu´ aprender na escolinha
O que serei, quando for maior…
- Mas tu tens um sonho, não tens?
Quem sabe talvez engenheiro?
São eles que ganham vinténs
E chegam à fama primeiro…
- É isso! Eu quero ser engenheiro,
Fazer pontes, ou fazer casas…
Ou, então, ir pelo mundo inteiro
A voar alto, mesmo sem asas!
- Ainda te hei-de ver de artista
Co´ essa bela voz que tu tens,
Ou um dançarino ou fadista,
E ter dinheiro, mais qu´ as mães.
- Mas… tens muito que estudar.
Vês o que diz o senhor prior?
- Olha, a vida não é só brincar,
É preciso esforço e … suor!
Eu compreendi esta mensagem –
Lembra-me como se fosse hoje! –
E eu … tenho feito uma viagem
Ao longo desta vida que foge.
Andei sempre de ceca em meca –
Eu tenho sido tudo na vida
Com muito custo, mas estaleca,
E alguma alegria acrescida.
Fartei-me d´ estudar, tirei cursos
E consegui mesmo ser doutor,
Fui tão valente como os ursos
E, até, desportista com primor.
Tive unhas pra tocar guitarra,
Pra cantar e tocar harmónio,
Aprendi a ensinar com garra
E fiz da Poesia “património”.
Chegado aqui, tenho tristeza
De não ser poeta com´ os poetas,
Fazer poesia, mas com beleza,
E atingir longínquas metas…
Sei qu´ aqui não estou por acaso,
Tenho uma tarefa aguerrida
Cumprir meu Sonho de Parnaso
Em busca da Arte Perdida.
Mas, ao ver do mundo a miséria,
Jamais perderei a cabeça
Como perdeu Santa Quitéria…
E oxalá que não m´ envaideça.
Há mais poetas p´ lo mundo fora,
Mas angustiados por dilemas:
Escrevem, escrevem hora a hora,
Escrevem tudo, menos poemas.
Por ceca em meca, ampla corrida,
Sentindo o que escrevo, com emoção:
A Poesia é a minha comida –
Viver assim, é a minha Paixão!
Frassino Machado
In INSTÂNCIAS DE MIM