Egoísmo
Já não tenho pressa
Deixo perto o que me interessa
Quem estava pra chegar já se encontra sentado
Já não tenho pressa
Os assuntos são sempre os mesmos
Essa é uma forma deles não serem incomodados
Quem achou isso normal deve morar bem longe
E o que posso fazer nisso tudo?
Já não tenho pressa
Sigo em linha reta em passos vagarosos
Já não me espanto
Nem me comovo
Quem contruiu os muros mora numa floresta particular
Não tenho par nisso tudo
Já não me desespero
Nem ando sonhando
Continuo caminhando o caminho que me resta
Quem fez o fim da estrada voa bem alto sobre nossas cabeças
E estamos sempre com a corda no pescoço
Por isso leio João Cabral
E na escola de facas eu sou o punhal
Já não tenho pressa
Pouca coisa, realmente, me interessa
Sou mais um egoísta nesse mar de egos
Sou mais um daltônico nesse império de cegos
Não olho seus olhos com paixão
Não olho além dos muros
Esmurro
Mudo de endereço
Não quero o avesso
Sou sempre averso
Não tenho pressa
Chegarei cedo ao novo endereço
Sei que a hora é sempre essa
Não tenho pressa
Não vejo ninguém embaixo da ponte
Não sonho com outro horizonte
Meu horóscopo me traduz algo concreto
Me deixa quieto
Estou sempre certo
Nao olho no espelho
Não tenho pesadelo
O mundo é o que é
Não tenho par nisso tudo
Sou eu e meu conteúdo
Meus metais
Meus ancestrais
Meus rituais
Não tenho pressa ...