Sem teto

Minha cidade é omissa

Alguém que não quer saber

Você passou por mim

E eu morri de frio.

Estou tentando ser, existir.

Ao longo da noite em sonho, consigo

Ao amanhecer todos trabalham

E eu não tenho aonde ir

Caminho de pedra. Caminho de pedra

Nos trilhos sem brilho sem filhos

Algazarra o tempo todo

Durante a noite açoites.

Ontem era homem tinha razão

Hoje desagregado não tenho nem pão.

Porque extinguiiu-se em mim a força

A forca vou e ao corredor da morte.

Silencio a noite toda

Sem companhia cego sem guia

Respiro os suspiros

Dos que são como eu.

Calor inverso ao do fogo

Frio atravessa os ossos

Posso sonhar só às vezes

Nas outras noites olhos meio abertos

Desejo que me enxerguem

Deixar de ser invisível

É o plano. Não sei se posso sonhar

Calado pareço louco.

Um pouco de mim está por aí

Coletando brisa

Um mundo particular me cerca

Vivo foragido de em outro corredor.

Não conheço meu pecado

Também não estou aflito

Apenas observo o tempo passando

E me deixando à margem.

O rio enche o rio seca

A chuva molha a terra

O vento seca

A roupa única

Se você quiser me ver

Estou no seu espelho espelhado

Maquiando o palhaço bélico

Atraindo olhares flácidos.

Alguém trás um prato de comida

Ida e vinda ontem e hoje

Alguém me tras honradez

Devo pagar com gentilezas

Cada um

Cada uma

Palavras são desastrosas

O fim de semana tenso, deserto.

O centro está deserto

Por conta do aparente feriado

Enquanto você dorme

Algo muda contra você.

Os deuses só observam

A queda das estruturas

Estou no escuro agora

Tenho medo do clarear sem luz

Porque minha mente voa

Sua razão não tem lógica

Estou na loja vendendo

Produtos encalhados

A luz persegue a sombra e se frustra

A agua molha os planos

Que trazem só desgastes

Rusgas, e fugas de armazéns

Amanhã vou acordar em fuga outra vez

Tentar encontrar no café da manhã

Uma mensagem de bom dia

Porque a vida continua vazia.

Tento passar a mao fria no rosto

Minha pele está na foto

Na pose da identidade

Não sei onde está a data de validade.

Da minha, da sua

A solidão transborda o corpo

Enchendo minhas medidas

A vida inútil inviabiliza a morte.

Me entendo transparente

Me negam a mão e a palavras

Hei, também sei falar

Só não sei mais que idioma.

harasmar@gmail.com

Geraldo Guedes Cardoso
Enviado por Geraldo Guedes Cardoso em 10/05/2024
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