Manifesto pangéia

Eu

Sou

Negra

Branca

Amarela

Vermelha

Não

Sei

Pele?

Casca?

Sem

Cor

Definida

Lábios

Grossos

Não tenho noção se sou isto ou aquilo

O que ganho com estas definições?

Torno-me o que?

Deixo de ser eu?

Apago minha história?

Deixo de ter valor?

Sou um nada

Se me decido por uma cor

Passo a pertencer a um grupo

E daí?

O que passarei a ser?

E os meus costumes?

As minhas ideias envelhecem

Ou deixam simplesmente de existir?

Atrapalho-me

Enxergo-me hoje como ser vindo de outro país?

E a história dos que vieram antes de mim

Apago da memória?

Visto-me com roupas outras para negar este ou outro país?

Não posso somar

Se meus antecedentes vem de tantas terras

Por que tenho que escolher uma só?

Um lado não me satisfaz

Tenho que somar tudo

O que me torna única é resultado de todos que me fizeram

Me construíram

A história deles começa a delinear a minha

Vieram uns da Europa

Outros da África

Outros da Ásia

Outros ainda de lugares que nem sei de onde

De uma terra que não tinha divisões

Sou parte da pangéia

Há escrita dela na minha existência

Assim como na de todos deste planeta

E ai?

Não será melhor dizer que pertenço à uma raça única?

A humana

Que ainda tateia em direção a um sentimento de irmandade

Onde todo homem é só homem

A se sentir humanidade

Ver no outro além da casca

Da cor da pele

Do ser de um jeito ou de outro

Simplesmente ser...

Homem ou

Mulher a dividir a terra entre si em pé de igualdade.

Raimunda Lucinda Martins(Nelremar)