Fome
Na boca
A sede
De algo
Que não é água
Que não é alguém
Que não é nada
Senão a sede
De algo
Que não sei
Que não é álcool
Que nem ninguém
Nem mágoa
Que nem palavra
Sacia
Mas, talvez,
A sede
Seja a fruta
Verde
Da mocidade
Que saliva
Na boca
Seca
Da idade
Madura
Talvez
A sede
Seja
A quentura
De outro
lábio
De outra
ostra
Que não seja
A tua
De outra face
De outro afago
De outra lua
De outra carne
De outra mordida
Outra rua
De outra
Boca
Contato
Nua
Pele
Que seja a tua
Contanto
Que me queime
O tato
Feito café
Quente
Que me incendeie
Feito querosene
Que me aqueça
Feito aguardente
Só não me esqueça:
Minha sede
Tem fome
E come
Noutras mesas…