Um retrato
Em qualquer bar, numa esquina aleatória,
um chopp gelado, numa noite longa e acolhedora.
O tempo altivo, ensimesmado, indagando,
tecendo tramas nessa sintonia, nessa noite esma.
Um jogo de purinha entre batatas fritas,
entre juras, entre risos, nessa esquina, revelando-se,
com palavras a esmo, nesses apelos convidativos.
Amores demais nessas orgias plenas, em cumplicidade.
Tantas noites, tantas músicas, tanta embriaguez,
nesses bares abrasantes, em consonância com nossas vidas.
Desfaz-se o cenário, desfaz-se as músicas, doces fantasmas.
O tempo passou entre beijos e bares, espanto, indiferença!
Restou essa paisagem difusa, esses bêbados.
Esse sabor amargo nas bocas desses ébrios indiferentes,
procurando refúgios nessa pálida manhã de profundo cansaço,
desfazendo infortúnios nesse quadro impreciso.
A vida passa entre desencantos e desamores,
escancarando feridas, disseminando cicatrizes.
Desejos obscuros se revelam nesses amores insanos.
Amanheceu na realidade dessa vida de imprudências.