O POEMA NOSSO DE CADA DIA
Verso é o que escorre da rosa quando a palma,
Mais que o suco da alma, espreme os espinhos...
Dor e perfume para inalarmos a calma e o gume
A palavra que brota de todo nosso estrume..
Pois do poema pisado, inalamos o olor , a murta.
A dor do parir é ínfima ante a alegria do filho ao braço
Palavras que nascem vivas, na madrugada fria
Burlando a dura agonia de saber-se poeta.
Dor não vem sombria,
antes dá-se ensolarada
O poeta é pombo-correio na enseada
No bico, mais do que lia,
traz a palavra de paz à guerra,
sua namorada.
Sua dúvida vem do mar
qual grave armada
contra a gente tão pouco amada
entregue sem mesmo lutar.
Porque o poema escorre pelos dedos
Mancha a blusa branca... Tintura de amora
Que hora beija a boca acaricia a alma
Outras vezes toca na ferida, abre os pontos
Expõe dores antigas, ou mesmo, futuras...
Mas do poema pisado, extraímos o canto, a alegria
... Maná nosso de cada dia!