COTIDIANO PLATÔNICO
Vidas insalubres
Lugares vazios de gente
Sementes sem vida lúgubres
Eis a terra assolada em seu dilacerado ventre
Pisamos em nossos restos e enodoados ancestrais
Nossos rostos, nossas rugas, nossas lamas
Nos reinventamos na saudade, quebrados cristais
De não vê-los nos tocar com a dilapidada alma insana
Nossas murchas e sanguinolentas retinas
Este show espúrio de horrores sem cores
Cavalo apocalíptico de avermelhadas crinas
Sai as ruas cotidianamente montado em seus desamores
É a fome pueril nos sinais esbaforidos de latas
E vidros fechados e aceno negativo no dedo da mão
As esquinas besuntadas de famílias e cacas
Advindas de longínqua paisagem sem coração...
A morte não tem fim é um ciclo vicioso sem divã
Pior são os mortos vivos no asfalto de olhares vidrados
É a droga, o álcool, a fome um coquetel de satã
São os capangas do destino, legiões do mal, por metro quadrado...
A vida está agreste, um andarilho maltrapilho
E somos este cenário, presos na caverna de Platão
Sombras bruxuleantes sob o fogo da maldade cega e sem trilho
E o homem que tem poder enfraquece os que não tem um lampião...
Assim sendo, sigamos quais a cegueira do vento
Que vem não se sabe donde e sem as rédeas da razão
E vai aonde ninguém sabe, pois, ninguém há de segura-lo com as mãos