COTIDIANO PLATÔNICO

Vidas insalubres

Lugares vazios de gente

Sementes sem vida lúgubres

Eis a terra assolada em seu dilacerado ventre

Pisamos em nossos restos e enodoados ancestrais

Nossos rostos, nossas rugas, nossas lamas

Nos reinventamos na saudade, quebrados cristais

De não vê-los nos tocar com a dilapidada alma insana

Nossas murchas e sanguinolentas retinas

Este show espúrio de horrores sem cores

Cavalo apocalíptico de avermelhadas crinas

Sai as ruas cotidianamente montado em seus desamores

É a fome pueril nos sinais esbaforidos de latas

E vidros fechados e aceno negativo no dedo da mão

As esquinas besuntadas de famílias e cacas

Advindas de longínqua paisagem sem coração...

A morte não tem fim é um ciclo vicioso sem divã

Pior são os mortos vivos no asfalto de olhares vidrados

É a droga, o álcool, a fome um coquetel de satã

São os capangas do destino, legiões do mal, por metro quadrado...

A vida está agreste, um andarilho maltrapilho

E somos este cenário, presos na caverna de Platão

Sombras bruxuleantes sob o fogo da maldade cega e sem trilho

E o homem que tem poder enfraquece os que não tem um lampião...

Assim sendo, sigamos quais a cegueira do vento

Que vem não se sabe donde e sem as rédeas da razão

E vai aonde ninguém sabe, pois, ninguém há de segura-lo com as mãos

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 02/06/2021
Código do texto: T7270064
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