DA ARTE POÉTICA

01 - CONTAR OU NÃO CONTAR, EIS A QUESTÃO

“Aos poetas angustiados I”

Tudo na vida tem um ritmo certo

Quer se queira ou quer não

Contar as sílabas, fazer acerto,

Contar os versos e com diligência

Quer se queira ou quer não

É da bela Poesia a sua essência.

Na excelsa Natureza há um horizonte

Conforme a intenção

O acto de criar refaz a fonte

Em todos os seus passos que há-de dar

Conforme a intenção

Cada verso é objecto para contar.

Toda a pessoa humana é renascida

De jeito natural

As palavras recontam-lhe uma vida

Marcando os toques do entendimento

De jeito natural

Organizando o espaço e o seu tempo.

Uma coisa, um evento, têm nexos

No tempo que compete

Há sempre espaço pra contar os versos

Nem complica a intenção nem é dilema

No tempo que compete

Revelando-se assim um novo poema.

Contar ou não contar, eis a questão

Até mesmo p´ los dedos

Faz mérito e aprende-se a lição

Se houver que acertar uma estrutura

Até mesmo p´ los dedos

Faz boa poesia e faz cultura.

Poeta, que te sentes angustiado,

No escuro labirinto

E te vês inseguro e bloqueado

Não entres em negócio de ilusão

No escuro labirinto

E segue a tua própria convicção!

*

02 - RIMAR OU NÃO RIMAR, EIS A QUESTÃO

“Aos poetas angustiados II”

A Poesia é a suprema liberdade,

Há que se dar o braço a torcer,

Mas em nome da poética verdade

Urge que alguém s´ empenhe pra dizer:

Toda a escrita, poesia pode ser

Se a mesma tiver arte e qualidade.

As palavras ao serem aleatórias

Pelo discurso da regra oficial

Poderão parecer mui perentórias

Ao representar mesmo algum papel

Mas fazer delas poética a granel

Poderão ser tudo menos meritórias.

Ao ser assim, será poesia ou prosa?

Em presença de frases ou segmentos

Considerar-se-á como engenhosa

Mas, como poema, só averbamento

E, para nosso descontentamento,

Poderá tudo ser menos graciosa.

Rimar ou não rimar, eis a questão

O que é assaz difícil, bem sabemos,

Mas se o rimar tiver boa afeição

É na música que o reconhecemos

E pela lira e alma que lhe dermos

Eis aqui seu valor e inspiração.

Poetas, se me ouvis e vos prezais,

Na vocação que tendes por mister

Não entreis em angústias informais

E rimai sempre que vos aprouver

Pois vossos louros hão-de renascer

Da nobre Poesia que sonhais…

Contar, não contar, rimar, não rimar,

Eis toda a angustiosa dialética

Que p´ lo poeta tende a perpassar

No espaço e no tempo da arte poética

Que dá total sentido à sinalética

Da arte do bem fazer ou versejar!

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 21/03/2021
Reeditado em 21/03/2021
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