CONSTRUÇÃO
Não vejo o céu
Vejo prédios
Telhados
Mal acabados
Assedios
Não tenho mel
Troncos cortados
Decapitados
Caixas de ar condicionados
Pombos
Gaviões
Tombos
Aviões
Não tenho estrelas
Somente telhas
Paredes desenhadas
Com cal hidratada
Num pintura talhada
Com monstros esculpidos
Uma buzina no ouvido
Anunciando o fim
Do belo e vulgar
Bem devagar
Um guindaste
Um desastres
Um corpo no chão
Filho dessa construção
Que destrói o horizonte
Tirando da visão o monte
Das dunas que pintava
Essa tela na lembrança
Quando eu era criança
Quando o mundo tinha mar
Quando na roda se cantava
As músicas de ninar.