MICROCOSMOS

“Ode à coragem que não há”

O microcosmos qu´ há latente sob os pés

E que respira pelos poros a vida toda,

Vemo-lo em corpúsculos à nossa roda

Animado por um instinto de sensatez…

Se olharmos com atenção, há um corrupio

Permanente e constante de pequenos seres

Que demonstram gerir bem os seus víveres

Sem atitudes ríspidas de desvario…

Todo aquele pequeníssimo e espantoso mundo,

Em autênticas auto-estradas de sobrevivência,

De um lado para outro, transportando a essência

E o ganha-pão, num hora-a-hora tão profundo…

São as formigas – modelares tarefeiros –

Que levam, trazem, trazem, levam, sem parar

E, quando desunidas, voltam a alinhar

Até que armazenados fiquem os celeiros.

O espírito gregário, sendo avassalador

E movido por disciplina autoritária,

Faz colheita inaudita e extraordinária

Que contraste aos humanos todo o seu labor!

E mesmo quando ocorre estranho contratempo,

Correndo o risco de ficarem trucidadas,

É comovente vê-las tão dinamizadas

A retomar o seu destino e movimento.

Quem é que deste partilhar não faz reparo?

Tomara que os humanos disso dessem conta

No labutar diário que é de pouca monta

E, ademais – se a isto comparado – é raro.

Quando é qu´ as mentes observam a natureza,

E quando é qu´ a revelação as faz pensantes,

E quando é que, enfim, se tornam actuantes

Fazendo jus a um projecto de firmeza?

Todo o fenómeno humano é muito limitado –

Numa vivência relativa sem horizontes –

E o homem nunca busca e nunca acha as pontes

Que o libertem, por fim, de estar agrilhoado.

Quero, com esta Ode, apenas proclamar:

Algo vai muito mal no reino da Humanidade

Que, por falta de coragem ou de hombridade,

Ninguém vê jeito de algum dia endireitar!

Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 21/09/2019
Reeditado em 21/09/2019
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