AS PALAVRAS E AS PEDRAS
“Aos poetas ansiosos”
As palavras pedras não são,
Ainda que tal o pareçam,
Importa reactivar a mão
Dos poetas que o mereçam.
Se as palavras fossem pedras
Não faltariam moradias
As pedras não conhecem regras
Pois vestem-se de fantasias.
Os poetas andam de mão morta –
Pedras e palavras não rimam –
E nenhuma musa os exorta
Quando na poesia não atinam…
Se umas e outras rimassem
Os poetas encontrar-se-iam;
As mãos não laboram nem tecem
Doutra forma eles afinariam.
Há pedreiras abandonadas
Que prometem laboração,
E há palavras desencontradas
Por falta de inspiração.
Eu, como poeta, me confesso
Mas ando por vezes perdido,
Em pedras e palavras tropeço
Por serem mistério escondido.
Dizem que há pedras no sapato
E que há palavras inibidas,
Quando o poeta delas está farto
É porque não lhes cura as feridas.
Há muitas pedras nos caminhos
Que os poetas não vislumbram
E há palavras cheias de espinhos
Esperando que as descubram.
Em caminhos de luz e breu,
Há pedras, palavras selvagens,
Quem é poeta já isto viveu
Numa alma por entre margens.
Os poetas são seres especiais,
As palavras são o seu domínio;
As pedras, não as querem mais
Sem harmonia e sem fascínio.
Está aqui a paixão do poeta
Que nenhuma pedra bloqueia
Com palavras de linha certa
Toda a poesia se incendeia.
Cada poeta anda a reboque
Da sua própria inspiração
Qualquer palavra é pedra de toque
Para um poema de libertação.
– Poeta que t´alimentas de ânsia
Co´ a tua alma em convulsão
Pedras, palavras, são a distância
Que vai de ti à tua emoção.
– Mas procura um são equilíbrio
Num fiel que te dê prazer
Evita os telhados de vidro
Se honesto poeta queres ser.
– Põe de lado tua ansiedade,
Não queiras versejar em vão,
Ama teu mister com seriedade
E encontrarás a direcção!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA