PALAVRA DE DEUS
Confesso ao meu átimo
Este anjo íntimo que me escuta
Estou cansado
A cada passo dado
Um laço do passarinheiro
Me espreita, um vazio orquestrado
É como estar olhando o mar da Torreira em Aveiro
E pelas minhas costas de fino alabastro
Um vazio enfarruscado e orquestrado
Por definitivas intenções cirúrgicas me castro
E é tanta a sua precisão entre o azul e o índigo
Como é o tempo passando para o mendigo...
Estou tão vago como as linhas de um papel ao maço
Linhas e mais linhas tênues que o destino faz vagar à toa
Sem preenchimentos, sentimentos, assentos!
Pessoas há de tantas estirpes
Como há tantos tipos de canoas
A misantropia sensória aumenta
Como á água tomada depois de chupada a menta...
Penso que o silencio às vezes é um orgasmo
Um cio pros ouvidos a taça bendita da terra
Tão devassados pelos burburinhos do dia
Que causam angustiosas neuroses e berra
Como plantas que sutilmente medra nas pedras
Essas vozes que nos invadem sem permissão
Vão entrando nos adentrando como visitas indesejadas
Como consolo sem vida deflorando o tímpano de nossa virgindade
Inférteis são os ouvidos, peneiras tão finas de profundos abismos
Que muitos se deixam engravidar por elas...em sismos...
A palavra é uma arma muitas vezes letal
Apontada pra nossa cabeças
Letras são balas que estão prontas a nos ricochetear
Em fileiras e se alojam as vezes em partes sem precedentes
O verbo se fez carne na mente
Mais nem toda carne está pronta pra receber o verbo
Que ora pode estar tão contaminado como uma maçã
Que estando podre apodrece as outras incremente
Que em parte não tem onde se refugiar...
O Silencio por vezes
É como uma vela recém apagada
O sopro não danifica a luz já consumada
E de alma lavada...
Palavras são como aves migratórias
Cheias de estórias pra contar
Letras enfileiradas
Vozes envenenadas
São bombas que quando não bem dirigidas
Destroem em cruéis correntes cidades neuronais...
Até no sonho se nos contraem
E nos destroem em espectrais pesadelos
Palavras são também bentas águas
Que nos santificam da sede espiritual
Nos alerta em ebulição
São palavras de amor...
Não nos esqueçamos jamais desta janela
Que Deus fez para nós e a chamou de boca
Cuja saliva é espuma sagrada
A arma mais letal que existe quando não calada
Ou quiça esqueceu o paraíso dentro dela...congelada!