CARCAÇA

A dor quanto mais sentida e tão pouco mais esgarçada estica, tão mais mal interpretada fica...

Não dá pra se compreender até ser tempo de passar

Ocupar espaços vazios em tudo quanto é lugar

Cheiros que não mais existirá em parte alguma

Carinhos que não se compram nem se avolumam

Roupas sem varal de molde cárneo

Sapatos sem preenchimentos e pegadas

Óculos sem olhos a fitar olhares vazios

Energia que não se carregam em tomadas

Retratos que não consegues sentir presença, toque, camadas...

E o tempo em que tinhas quando a flor que pensavas ter

Sucumbiu ao tempo de não perceberes que isso podia acontecer...

Agora o vale é somente teu, esquece as avenidas e as ruas

Esta depressão de terra que se abriu dentro de você é toda sua

Picos e montanhas estão distantes...longânimas suas quedas

Travessias de horas imensas a correr no céu de lembranças

E danças a valsa do contentamento até criares bolhas nos pés...

Tudo se anestesia da lágrima ao sorriso crispado

Tudo plastificado como se o mercado tal qual o urubu

Tivesse que ser limpo somente por tu

Cada carniça do que não presta precisa ser reaproveitado

Revestido com as tuas couraças e culpas

Com o tempo tu aprendes que és e serás

Aprendiz do tempo, até ser tempo de tu seres a presa dele

A única coisa que eles querem é a nossa carne...

É isso que eles buscam a nossa carne

E acreditem em cada coração que bate

Eles haverão de o parar de bater...é disso que eles se alimentam....do medo que devora todos os dias a cada um de nós.

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 03/10/2017
Reeditado em 03/10/2017
Código do texto: T6132381
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