SINCERICÍDIO
Não minto nem morto...
Há tantos portos pra minha verdade atracar
Há ventos em todo lugar
Palavras que deslizam
Enchendo as velas de golfadas de ar
Há tantas mentiras nodosas
Há tantas rosas machucadas
Tão pouco exaladas
Bem sei que se dependesse dos homens
Seus espinhos chorariam lágrimas de sangue
E nada há que estanque sua maldade latente
As vezes há uns ruídos na minha alma
Algo ruminante como um vício já vencido
Sinto a brisa do vento acariciando o presente
A única verdade a ser pisada é agora
O resto da memória é guerra inútil
O futuro é uma esperança fútil
Somos úteis e férteis quando choramos
Sem sermos ávaros com as lágrimas vindouras
Não douremos a mentira com omissões
E falsas confissões
Não há portões para a morte
Há uma só porta para a verdade
E viver sem mentir é como morrer sem ter existido
Por isso não minto nem morto
Assim deixemos o sangue ser bombeado pela aorta ascendente
Afinal Deus não mente...
Mas escreve certo por linhas tortas