O trabalho
Minha consagrada obra-prima, é a mão que segura o formão.
o músculo é o entusiasmo do verbo, sendo entalhado por olhares afiados,
e por fim envernizado, a cada lágrima de apreço.
Toda a matéria-prima se inicia com falta,
mas madeira retirada nunca esteve nas estátua,
e cada forma colocada, em mim se encontrava abrigada. .
Devo dar forma ao que sobra,
distanciar-me do que resta,
e aproximar-me ao limite do que não se expressa.
A memória se aglutina,
como a poeira na garganta
e o sal na pele seca.
Poesias feitas com ócio, são como trabalhar com a ferramenta cega,
tem som de madeira ao fogo,
e o medo da mão esquerda ferida.
Cortes retirando o que não há, exigem o órgão que o dispensa.
cada afiação do formão nobre,
sente a pedra dura a mão cuidadosa, sente couro macio o aço duro.
O ângulo agudo do aço, ao penetrar na madeira virgem,
curva completamente a realidade, tornando-se vivo,
acrescentando um passado ao futuro presente admirado.
Cada fenda ou sulco, seja profunda ou rasa,
eterniza o posição de um todo,
condensado ao observar o próprio
O que guia o compasso da plaina,
para a dança dos cavacos,
será a rigidez de meus calos, e a idade das cicatrizes.
O pulso firme acompanhando o ombro,
ou pulso solto com compassadas batidas do malho,
dimensionando o literal em um processo contínuo.
Fragmentos voam e rodopiam, cada vez mais devagar,
músculos cegos, aço fadigado,
cabo cambaleando, olhos precisando ser trocados
Emana-se formas sedentas por consistência,
extasiadas com o mergulho na carne crua,
seu toque efêmero e caloroso ajuda o a trabalhador persistir.
A peça fixada pelo olhar, dimensionada pela morsa,
fio implacável contra imaculados poros, nós e veios,
transformam-se em poeira, o suor e lascas.
Ânsia de abandonar-se ao presente,
de perguntar ao constante,
de converter o infinito.
Massagem na madeira inócua habitada pela mão ,
desprende-se do concreto a completude fantasmática,
...estamos prontos.