MESA DE INOX FRIA
Deitado nessa mesa de inox fria
No canto do corredor permanece
Do ventre social, essa cria
Fiapo de vida que padece.
E um sopro de esperança
Surgi entre prontuários, geladeira branca
O dono daquela dança
Do jogo que nunca banca
Ser notado acontece
Assim como chega, se vai
Ninguém sequer aparece
Para dizer quem é o pai
Gemem infernos, gritos afiados
Rasgam de madrugada
Mendigos, farrapos calados
Noite sódica parada.
Talvez de hoje não passa
E o sol de manhã não entra
Um presunto deixa a cama
Que o outro já se senta
Do remédio que não toma
Porque estou de coma.
Por sorte algo aconteceu
Levaram um pro exame
E a morte, teia que cresce
Nessa hora reclama
O prontuário agradece
Pro apartamento outra chama
Do fio da navalha se livra
Agora resta o tormento
Dos fatídicos dias de sofrimento.
No final chega o dia
De deixar o hospital
Onde vidas se misturam
Como vacas no curral
Sofrendo com a agonia
De terem passado mal.