Alvorecer gaussiano
O alvorecer nasce bucólico entre as folhas e galhos da minha laranjeira. Por entre a cortina, como um quadro grotesco. Verdeja por detrás dos formatos da grade protetora, nos vidros sujos de marcas de pele da porta, um fulgor que brota de dentro pra fora das superfícies que reluzem, como que carregados internamente daquela luz. Como que adormecidos a noite toda, abrindo o único olho no meio da testa, despejando, vomitando aquela luz. Qual regozijaram e agora golfam. Como loucos, esquizofrênicos. O alvorecer nasce bucólico entre as folhas e galhos da minha laranjeira. Por entre os olhos, como uma lembrança grotesca. Verdeja diante das retinas e do castanho-escuro, num ambiente imaginário repleto de imagens, um abstrato que brota único das superfícies que reluzem, como que carregado internamente daquela luz. Como que desde sempre ali, intactos como uma fotografia nunca revelada, despejando, vomitando aquela luz. Qual regozijaram e agora golfam. Como sãos, coerentes. Como o olho do homem que vê. Como a visão do olho que avista. Únicos e perspectives. Iguais, desde sempre. Diferentes, desde sempre. O alvorecer nasce bucólico entre as folhas e galhos da minha laranjeira; dos olhos do poeta, ou da poesia?
Vinicius Ezequiel.