ÍDOLO
Tenho olhos, mas não vejo.
Tenho boca, mas não falo.
Indiferente ao teu beijo,
estático, não me abalo.
O que me pedes - teu desejo -
não me trinca nem estalo;
o artesão me fez de gesso
no eterno sono em que me embalo.
Tenho ouvidos, mas não ouço.
Tenho pernas, mas não ando.
De nada vale o alvoroço
de tanta gente caminhando.
O que levas em teu pescoço
é o nada em que desando;
é o mergulhar mais fundo no poço
sem atitude e sem comando.
Não me faças nenhum pedido,
pois não posso interceder.
Inanimado, não sou teu amigo
nem posso te socorrer!