Já
com a caneta numa mão e o cigarro na outra
vou me entregando no papel, ao papel.
sou sofrido e ferido
já fiz sofrer e feri
já fui de uns e de umas
hoje sou meu.
já bebi umas e fumei uns
já chorei e fiz chorar
já fui preso;
arranquei a chutes minha liberdade,
arranhei as paredes da prisão até minhas garras caírem,
deixando à carne morta minha mão.
da minha voz eu não abro mão.
já fui homem no melhor dos sentidos, na minha poesia sou Deus
já senti e fui sentido, fiz sentido
remanejei minhas palavras e minhas batidas,
revoluciono meu meio e grito no motim até minha garganta sangrar, quem sou eu.
hoje, carrego amores presentes, passados e mágoas
carrego-os na minha dose e os mijo depois.
carrego dores e alegrias,
prazeres grandes e pequenos, lúbricos
quereres febris e amenos, lúdicos
carrego memorias e lições.