A MÃE QUE DO FILHO SE PERDEU

A mãe é tudo

Seu peito é alimento

Seu colo é mansidão e sobretudo

E há tanto amor como a loba tem pelos filhos

Que prefere devora-los que deixa-los

Serem devorados pelos chacais

Com seus dentes traiçoeiros e fatais...

Mais há também aquela de corpo desnudo

Que não palpita no seu seio aveludado e com bico de úbere

Tudo até seu ser nascer noutro ser é criança impúbere

Uma ideia além de um corpúsculo sonhado é rei

Há mães desnaturadas bem sei

Aquela que abandona o filho

E o aborta depois de nascido

E põe a culpa no mesmo é canção sem estribilho

Por talvez não te-lo sucumbido...

Dando graças por músculo-esquelético

Não te-lo morto como natimorto entre as vinhas

Qual caboclo plácido que achou sua mãe

No lodo e passou a chama-la de "santinha"

Depois que a achou no igarapé de murucutu

Hoje conhecido como bairro de Nazaré...

Muitas vezes depois que o caboclo a achou

Ela misteriosamente sumiu do altar de sua casa

E o mesmo caboclo novamente indo procura-la

Lá junto ás margens do mesmo murucutu

A encontrou novamente entre as pedras por que

Mãe que é mãe não abandona

Seu filho por nada neste mundo...

Como um camafeu que ela a procurou e colheu...

Há mães desnaturadas sim!

Os filhos da necessidade mamam nos chiqueiros

De moscas orvalhados de insetos

Cujo umbigo plasmado de cimento joga o feto

Na vala do esquecimento e mesmo depois de salvo

Por outrem já é terceirizado pelo ciclo do demônio locupleto

Depois de crescido e crido é pelo passado escravizado

Se não lhe deu um neto é mármore sujo de limo empedrado...

É como dar aceto a Cristo ao invés de água

Quanta tinta sanguínea de mágoa

Quanto se macula um filho?

Quanto se mata um filho em vida

Sem careira de videira?

Quanto se ignora um filho???

Quanto ser mãe é matar-se em vida um filho

Quanto ser mãe é ser mãe de verdade?

É ser desnaturada é ser descarnada da própria carne?

Quanto ser mãe é ser ignorada pelo filho?

Quanto ser mãe é seguir seu filho

Seguir Jesus quando todos familiares o abandonaram

Menos ela sua mãe...Pelo amor a Deus !

Que cova é esta meu senhor que se abre para os ímpios?

Só repartir o pão com fariseus..

Porque as palavras fermentam mais que o trigo...

Como deixar o filho bastardo ir-se em vão

Como servir o ódio de sua servidão...

Cade o amor? Que viceja por entre os óleos das mães santas

Este amor servil como o verdor das plantas...

Naveguei por entre sêmen-tes

Para me desembocares no nada do meio fio

Deus meu em quem confio...

Onde está o fio de teu novelo

Onde está o placebo de minha dor no cio

Cadê minha mãe? Que me jogou na vala comum

Que me desertou de seu ventre febril...

Este ser que agora escreve sem te olhar nos olhos

Que entre os teus escolhos

Escolheu os que lhe deram frutos?

Luto sim! Por filhos de luto

Que não tiveram uma mãe pra lutar...

Luto por milhares de irmãos sem correntes

Luto por sementes sem terra incongruentes

A vida não se encerra ela pulsa lateja e sente

Diante do sol que em sua graça passa a servir a todos de graça

Porque o sol jamais dá o ar de sua graça em vão...

Enquanto uma mãe existir

Sempre haverá no rosto do filho uma primavera

A dor da sede de quem não a retem só tem quem a sente

Mesmo que em lágrimas não se possa ver, mas sentir

Que diante da testemunha do céu se enterra a dor de viver....

Mesmo assim mãe querida, longe de mim agir como um ateu

Eu te peço em silencio profundo, perdão!

Por eu ter sobrevivido neste mundo que não era só teu

Quando caminhavas para ir

Junto ao meu quarto de monstros imaginários

E me fazias dormir como dorme Morfeu

Como um canário que quando cedo acordava

Tinha esquecido que de noite

O monstro que o fizera temeroso era o malvado breu

Obrigado mãe pela dor que me fizeste

Nada é igual a tua dor amarelada de açafrão

Apenas peço teu perdão de absinto

Como um ser faminto

Pede um pedaço de pão

E que ao esboroar-se em lágrimas

Que dos olhos marujam orvalhados

Possa alimentar outros seres menos privilegiados...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 10/05/2015
Reeditado em 10/05/2015
Código do texto: T5236754
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