Confissões de um Errante
Das estradas pelas quais trafeguei trago fotografias jamais reveladas.
Imagens dos matos, dos bichos, das gentes. Paisagens já meio desbotadas.
As distâncias que nem eu sei... São estradas. Só estradas.
Curvas e retas entre paragens alheias.
O mundo é grande. Meus braços curtos. Queria ser nativo de todo lugar.
A minha vontade de ir embora é tão vontade quanto a vontade de ficar.
Talvez seja aqui mesmo o meu lugar.
Não aqui. Exatamente onde estou.
Mas aqui. Exatamente onde poderei estar.
Aqui ou ali, os cheiros, os sabores. Tudo parece tão familiar.
A maciez ou a dureza das camas jamais me impediram de deitar.
Tantas Marias passaram por lá.
Quase todas muito desejadas.
Algumas, confesso, mal comidas.
Mas que não se queixem. Por favor.
Não arrastem meu nome pelas lamas.
Brancas, vermelhas, amarelas ou negras.
Moças de boa família, meretrizes ou, mesmo, respeitáveis senhoras.
Maria branca dos Pampas ou Maria preta do agreste pernambucano.
Todas... Absolutamente todas.
Ainda que com incômoda intermitência.
Foram muito bem amadas.