Icarismo
Eu queria saber voar!
Não, apenas, voar sentado nessas máquinas ruidosas mais pesadas que o ar.
Eu disse que queria e, quero saber voar.
Não pode ser de ultraleve, asa delta ou outra máquina de planar.
Eu quero mesmo é saber voar.
Mesmo sem a destreza dos colibris.
Apenas saber voar.
Não quero ser veloz como o falcão-peregrino.
Nem ir tão alto quanto os Abutres da Eritréia.
Não preciso da autonomia dos fuselos.
Voaria em escalas mais curtas.
Ainda que pousasse todo desajeitado.
Desastrado como os albatrozes.
Eu nem faço questão de belas aterrissagens.
Eu só queria saber voar.
Descolar-me do solo num impulso suave.
Cortar a gravidade e flutuar vadio.
Inconstante como os Pardais.
Passear bem rente ao mar.
Aspirar o perfume das brisas.
Beber dos primeiros pingos da chuva.
Voaria a noite pelos guetos das cidades com as corujas e os morcegos.
Ah... Como eu queria saber voar.
Não acho isso nenhum absurdo!
Pior é o Zé, meu amigo, que quer ser invisível.
Vê se pode?
Invisível! Aí já é maluquice.
Eu não!
Eu só queria mesmo era saber voar.