DIÁLOGO: 02-OS DOIS CAIPIRAS E O WhatsApp.

Bom dia compadre João,

Vejo que está preocupado,

Vá logo desembuchando,

O que tá lhe apoquentando,

Vivendo impressionado.

Há dias que estou notando,

Que voz me sê num tá bem,

Ontem lhe vi no caminho,

Estava falando sozinho,

Olhei e num vi ninguém.

Por essa razão me atrevi,

Ao compadre visitar,

Saber o que está havendo,

O que tá lhe aborrecendo,

Se o sinhô quiser contar.

Olha compadre Manué,

A situação é bem séria,

Eu tô mesmo esquisito,

Confesso que inté aflito,

Mudar isso quem me dera.

Olhe compadre confesso,

Que o mundo tá esquisito,

Com tantas coisas surgindo,

E os povos consumindo,

Que às vezes nem acredito.

Mas essa tal modernidade,

Que se cria tanto invento,

Olhe que é tanta invenção,

Que meu velho coração,

Pareceu parar no tempo.

Não sei se o sinhô já sabe,

Da mais recente invenção,

Cruz credo Ave Maria,

Mais parece uma agonia,

Voz me sê vai dar razão.

Esse tal de WhatsApp,

O sinhô já ouviu falar?

O bicho tá se espalhando,

Fica todo mundo usando,

Não tem mais como parar.

Oia esse troço compadre,

Parece uma mardição,

Tá pegando todo mundo,

Usou o tár um segundo,

Não deixa dele mais não.

Antigamente os casár,

Viviam mais sossegados,

Não tinha essas porcarias,

Que os invade o dia a dia,

Como se fossem obrigados.

Com os jovens nem se fala,

Viraram uns cabeças ocas,

Pois é só a isso acessar,

Pra ao mundo se conectar,

Numa velocidade louca.

Mulher se esquece de fio,

Com esse infeliz na mão,

O moleque pinta e borda,

E a mãe nem se incomoda,

Compadre! É coisa do cão!

Muié nem cuida de casa,

Queima e sapeca a comida,

Minhas meninas em casa,

Tá tudo pisando em brasa,

Parece a dor de barriga.

Os casár já nem se falam,

É só mandando mensagem,

Oia que bicho esquisito,

Grava inté voz grava grito,

Como se fosse visagem.

O que se ver é esse troço,

Em toda a repartição,

Pois veja inté nas igrejas,

Ver-se gentes na peleja,

Se esquece inté do sermão.

Nos botecos nem se fala,

Inté mesmo os cachaceiros,

Fazem só pra se mostrar,

Todo o tempo a se gabar,

WhatsApp o tempo inteiro.

Pensa que é só na cidade,

Que esse troço tá pegando?

Oia vi que inté lá na roça,

Na mais humilde palhoça,

O bicho tá perturbando.

Compadre não se avexe,

Vai ser daqui pra pior,

Num adianta reclamar,

O jeito é se acomodar,

Todos querem não um só.

Isso tá em todo canto,

Ataca velhos e moços,

Até quem não entendia,

Parece inté covardia,

Já está falando grosso.

Desse tal que inventaram,

Não há cristão que escape,

Empestou que nem a praga,

Pois tudo aqui se propaga,

Nesse tár de WhatsApp.

Lá em casa inté a muié,

Que encrencava com isso,

Já nem sei o que nela deu,

Pois num é que aprendeu,

Viver mexendo no bicho!

Oía que já dei conselho,

Já briguei já fiz o diacho,

Mas parece não ter jeito,

Não mais se dá o respeito,

Eu não sei mais o que faço.

Oia compadre num sei não,

Mas do jeito que to vendo,

Inté quem num sabe mexer,

Vai ser obrigado aprender,

Viver nesse trem mexendo.

Esses dias a minha fia,

Me mostrô esse tár bicho,

Disse pai num tem segredo,

É só o sinhô passar o dedo,

É bem fácil acessar isso.

Sabe que inté eu gostei,

Dessa invenção arretada,

Pois num é que lá tem tudo!

O que se passa no mundo,

Vídeo, música e inté piadas.

Pois eu não retruca João,

Com isso não quero conta,

Num quero ficar grudado,

Que nem um abestalhado,

Pior que galinhas tontas.

Oia compadre Manué,

Se essa coisa não mudar,

Pode escrever o que digo,

Muié vai largar marido,

Sem o sujeito esperar.

Mas acho que eu já sei,

A coisa é de fazer medo,

Só pode ser mesmo o fim,

Cruz credo longe de mim,

Não se vai mais ter sossego.

Cosme B Araujo.

17/10/2014.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 17/10/2014
Reeditado em 26/04/2021
Código do texto: T5002514
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