MENDIGOS
Sentir-se morto
Cuja vela é outro corpo
Sem saber ao certo o que é direito
Ou o que é torto
Morto mesmo assim em vida
Onde a cachaça é sua guarida
Vai seguindo a linha do destino
Naufragado no sereno
Vai de si consigo
Como joio na vida do trigo
A vida passa pelos seus olhos
Como uma catarata e se esfumaça
Vive porque tem peso
E sobrevive do que sobra na calçada
O moreno do sereno
É seu impiedoso massagista noturno
E quando troca de turno
Seu despertador é a buzina do carro
Andarilhos maltrapilhos
Vivem fora dos trilhos
Como uma entidade a parte
Espíritos que vagam sem laços
Sem condomínios seguem a arte dos passos
Espaços vagos e esquinas
Barbas longas como sua sina
Esta é a escola do mendigo
Olhos da rua
Como giz na lousa
A verdade nua e crua
Liberdade e clausura
Toxicodependência o "flatservices" de sua residência
Mendigos filhos errantes do mundo
Profissionais de outra forma de vida
Na lata de lixo está sua comida
O que resta do que sobra é seu alimento
E como olhos imortais
Seguem a linha do tempo
Limpando rastros e restos de nossas digitais
Morador de rua sem acento
São como bolachas
Esboroadas pelo vento a vagar
Mendicância amarga
Sem um aconchego de um lar doce lar...