MENDIGOS

Sentir-se morto

Cuja vela é outro corpo

Sem saber ao certo o que é direito

Ou o que é torto

Morto mesmo assim em vida

Onde a cachaça é sua guarida

Vai seguindo a linha do destino

Naufragado no sereno

Vai de si consigo

Como joio na vida do trigo

A vida passa pelos seus olhos

Como uma catarata e se esfumaça

Vive porque tem peso

E sobrevive do que sobra na calçada

O moreno do sereno

É seu impiedoso massagista noturno

E quando troca de turno

Seu despertador é a buzina do carro

Andarilhos maltrapilhos

Vivem fora dos trilhos

Como uma entidade a parte

Espíritos que vagam sem laços

Sem condomínios seguem a arte dos passos

Espaços vagos e esquinas

Barbas longas como sua sina

Esta é a escola do mendigo

Olhos da rua

Como giz na lousa

A verdade nua e crua

Liberdade e clausura

Toxicodependência o "flatservices" de sua residência

Mendigos filhos errantes do mundo

Profissionais de outra forma de vida

Na lata de lixo está sua comida

O que resta do que sobra é seu alimento

E como olhos imortais

Seguem a linha do tempo

Limpando rastros e restos de nossas digitais

Morador de rua sem acento

São como bolachas

Esboroadas pelo vento a vagar

Mendicância amarga

Sem um aconchego de um lar doce lar...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 25/09/2014
Código do texto: T4975937
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