ETiópia

Na Etiópia a fome tem ar rarefeito

É seca nordestina predestinada no peito

A mosca residual zomba tonta no parapeito

O cio da terra goza lágrima seca de pobreza e inanição

A fome se arrasta não tem jeito

Terra dos desvalidos dos esquecidos

Ali, filho que morre nem lágrima

Tem força pra sair dos olhos de quem se arvora a chorar...

Exército da fome que os devora a juros de mora

E o sexo desenfreado continua e se alastra

Como rastilho de pólvora em explosão

O desejo pelo contrário do obituário de engano

Em que a borracha do mundo apaga passando o pano

Tem vida própria e também está sempre esfomeado

É uma guerra silenciosa e pertinente

Sem bombas, o único estrondo é o ribombar do estômago...

Dentro de um esquecido relicário africano

Segregada e velada sem sopa e sem pão

E a gravidez de ossos é miséria ressequida sem consolação

Os bebês quando nascem tem aparência de “ets” sem desfaçatez

Mais um sujeito “zinho”

Sem culpa aparente gemendo na fila da exumação...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 08/08/2014
Reeditado em 08/08/2014
Código do texto: T4914023
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