ETiópia
Na Etiópia a fome tem ar rarefeito
É seca nordestina predestinada no peito
A mosca residual zomba tonta no parapeito
O cio da terra goza lágrima seca de pobreza e inanição
A fome se arrasta não tem jeito
Terra dos desvalidos dos esquecidos
Ali, filho que morre nem lágrima
Tem força pra sair dos olhos de quem se arvora a chorar...
Exército da fome que os devora a juros de mora
E o sexo desenfreado continua e se alastra
Como rastilho de pólvora em explosão
O desejo pelo contrário do obituário de engano
Em que a borracha do mundo apaga passando o pano
Tem vida própria e também está sempre esfomeado
É uma guerra silenciosa e pertinente
Sem bombas, o único estrondo é o ribombar do estômago...
Dentro de um esquecido relicário africano
Segregada e velada sem sopa e sem pão
E a gravidez de ossos é miséria ressequida sem consolação
Os bebês quando nascem tem aparência de “ets” sem desfaçatez
Mais um sujeito “zinho”
Sem culpa aparente gemendo na fila da exumação...