SOM DA CORNETA
O som da corneta só sai se alguém soprar.
Todos os ruídos assustam o silêncio.
A madrugada ansiosa cumpre o seu horário.
Atenta esperando a hora da aurora chegar.
Tem gente fazendo comida, sabendo:
Depois de feita não vai dá para comer.
O neném na barriga pensa,
Mas não pode chorar.
Tem gente escrevendo algum livro,
Sabendo que os escritos em linhas retas
Não vão lhe interessar ler.
O médico adoece, piora e padece,
Fica à toa sem saber que remédio tomar.
O pai de santo bota baralho sabendo de tudo,
Mas quando é para ele as cartas caem da mão.
Nervoso se atrapalha no embaralhar.
A necessidade sempre faz o milagre.
O doente não se importa qual o santo,
Que vai a sua doença curar.
Enquanto isso, a coisa segue a mesma coisa.
A estrela que pisca se arrisca apagar.
A roda era quadrada e perdeu os cantos.
Até hoje procura por eles em algum lugar.
O candidato político só chega perguntando.
Quer saber o que falta naquela região.
O povo inocentemente mostra as carências.
E ele se lembrando do que quer,
Sempre esquece de dizer:
Não conte comigo.