MONÓLOGO-12. ( De um filho ao seu velho pai ).

Ao te contemplar,

O semblante amado velho,

Tento achar um paralelo,

A que o possa comparar.

Foi que pude entender,

O quanto o tempo passa,

Que viver perdeu a graça,

Percebo em teu olhar!

Perco-me na procura,

De tuas mãos hábeis e fortes,

Que hoje tem por suporte,

Aquele velho cajado.

Peça extraída,

De um galho de xiquexique,

Que hoje já nem existe,

Pelos cupins foi tragado!

Aquelas mãos,

Que se gastou no ofício,

Já percebo o sacrifício,

Pra segurar encostado.

Na inconteste flacidez,

Que pende de tuas mãos,

E o afogueado coração,

Bate hoje compassado!

Tremem os músculos,

Ante o peso da idade,

Que o tempo tão covarde,

Vai levando sem receio.

No interior da memória,

Recobre-lhe a atenção,

Vem-lhe pálida recordação,

De eternos devaneios!

Num olhar já turvo,

Em reflexos tão minguados,

Percebe está predestinado,

A conviver com a saudade.

Comenta consigo mesmo,

Oh!Como passa depressa,

Avaliei ser conversa,

Mas entendo ser verdade!

Em seu nefasto destino,

O que ver já não o assusta,

Pondera a existência é curta,

A caminharmos para um fim.

Ouço às vezes sem querer,

Num fraco balbuciar,

Expresso pelo teu olhar,

Como lamentando a mim!

E a vontade de viver,

Faz-te ver que a vida bela,

Ao ver abrirem-se as janelas,

E tantos jovens brincando.

Marejam-lhe o olhar,

Como se estivesse a sofrer,

Então no rosto a correr,

Em águas se desmanchando!

Na mente já cansada,

Pouco de tudo está guardado,

Tantos arquivos queimados,

Que já nem se lembra mais.

Os belos sonhos,

Perderam-se pelos caminhos,

Que esteve a trilhar sozinho,

E o enfado lhe tira a paz!

Tantas são as canseiras,

Que atormentam seus dias,

Levando vida sombria,

Impetra curta caminhada.

Todos os anseios,

Que foram por ti vividos,

Hoje se encontram escondidos,

Sepultado nas pegadas!

E aquele que foi seu mundo,

De tantos tempos risonhos,

Perderam-se co’ os sonhos,

Que ficar no passado.

Foi-se a época,

De apogeu e grandeza,

Hoje se cobre de tristezas,

Como um fardo mui pesado!

As grandes festas,

Em contagiantes alegrias,

São apenas nostalgias,

Que sobraram esses anos.

Todos reconhecidos,

Como os dias afortunados,

Hoje presos no passado,

Em um cárcere tirano!

Agora eu vejo-te,

A caminhar lentamente,

Já com teus braços dementes,

A vencer-se pelo tempo.

Meu velho você foi sempre,

O mais fiel escudeiro,

O mais invencível guerreiro,

De quem eu sigo exemplo!

A voz forte e altiva,

Em toda tua bravura,

Tem predomínio a candura,

Em um corpo combalido.

Angustio-me em perceber,

Que estás perto de partir,

Pra tão distante de mim,

Com o teu abraço amigo!

Meu velho,

Em pouca mobilidade,

Isso deve-se a tua idade,

Mas insistes em trilhar.

Os teus passos,

Já não são mais apressados,

Parece que são contados,

Um a um antes de andar!

Tens hoje a tua cabeça,

Em uma cobertura alvinha,

Onde nem uma mancha tinha,

Que te revelasse a idade.

Porém agora,

Que te falta o olhar,

Vejo aqui te ver chorar,

Entristeço de verdade!

O teu sorriso,

Já um tanto desbotado,

Deve ser por que o fardo,

Que tão pesado se faz.

E mesmo assim,

Cumpri a risco tal rotina,

Parece mesmo ser sina,

Cada dia amar-nos mais.

A afabilidade,

De toda tua experiência,

Durante essa vida extensa,

Consumiu-te em agonias.

Porém sei que tua dor,

Não há remédio que cure,

E por mais que tu procures,

Não te chegará tal dia!

É bem verdade,

Já foi dito por alguém,

Quem nem tanto valor tem,

Nosso ser assim presente.

Mas que sentimos,

Se partires a saudade,

Quanto vale na verdade,

Ao estar de nós ausente!

Meu velho amado,

Quase não consigo falar,

Sem forças pra expressar,

Por teu inestimável valor.

Mas as lições,

Que aprendemos de ti,

Essas sim vão nos seguir,

Em qualquer lugar que for!

Aceite de seus filhos,

Essa singela homenagem,

Sei que nos faltam coragem,

Pra falar-te oh pai querido.

Inda que partas,

Em cada filho ficarás,

Teus conselhos que jamais,

Por nós serão esquecidos.

Receba oh pai,

Nosso carinho e amor,

Nesse dia que o senhor,

Tanto por nós festejado.

Que nunca morra,

O amor dentro de nós,

E nunca nos falte à voz,

Pra honraste pai amado!

Cosme B Araujo.

11/08/2013.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 11/08/2013
Reeditado em 11/08/2013
Código do texto: T4429198
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