MONÓLOGO. 11. ( Um menino que sonhava).

Fora meus sonhos,

Ter uma vida de sucessos,

Era meu tudo confesso,

Ver-se uma lágrima rolar!

Daquele velho ancião,

Em seu quarto de asilo,

Já não mais se via o brilho,

Daquele penoso olhar!

Numa visita,

Lá na vila São Vicente,

Onde idosos tão carentes,

Tinham humilde aposento!

Cabeça baixa,

Estava cego Eduardo,

Um tocador respeitado,

Com seu velho instrumento!

Todos os dias,

Saia de madrugada,

Tendo sua mão segurada,

Por um pequeno menino!

Que o guiava,

Pra esquina da avenida sete,

O cego e aquele moleque,

A pedir quais peregrinos!

Pobre criança,

Filho de um seringueiro,

Do nordeste brasileiro,

Que morava ali por perto!

Tão mirradinho,

No frio da madrugada,

Toda manhã caminhava,

Por caminho céu aberto!

Próximo a feira,

Do mercado municipal,

Uma xícara de mingau,

Era o seu desjejum!

Ali ficava,

Juntinho sem vacilar,

Sentadinho a vigiar,

Os trocados um a um!

Tinha um sonho,

O filho de nordestino,

Nunca pensou ser granfino,

Queria apenas estudar!

Mas nesta vida,

Cada um tem uma estrada,

Na difícil caminhada,

Que a cada um se dar!

Era janeiro,

Do ano de sessenta e três,

Bem no inicio do mês,

Foi o dia da partida!

Em uma lancha,

Junto com outras pessoas,

Embarcamos numa boa,

Sem nenhuma despedida!

E por três dias,

Descendo no rio Madeira,

A balsa margeava a beira,

De sua margem direita!

Muitas crianças,

Pelo convés passeavam,

E seus pais acompanhavam,

A segurança perfeita!

Logo chegou-se,

A uma grande cachoeira,

De Jaburu no Madeira,

Na boca do rio Machado!

Num acampamento,

De codinome angustura,

Lá começava a tortura,

Do bando de condenados!

Nas virgens matas,

Do um grande seringal,

Pelas mãos de Lourival,

Testa de ferro falado!

Tomando conta,

De mais de mil seringueiros,

Como sofridos guerreiros,

Sendo ali escravizados!

Por quatro anos,

Ali no embrenho da mata,

A mercê de sorte ingrata,

Naquele louco batido!

Saia cedo,

A seu pai acompanhando,

As seringueiras sangrando,

O branco líquido pedido!

Assim se foi,

A sua sofrida infância,

Mas não saiu da lembrança,

Esse martírio passado!

Estão bem vivos,

Gravados em sua memória,

Essa parte de sua história,

Em seu coração gravado!

E o tal menino,

Como um eterno sonhador,

Àquela cidade retornou,

Por caprichos do destino.

Inda pequeno,

Tanta responsabilidade,

Em um bairro da cidade,

Veio morar esse menino!

Ali na escola,

Inicia a caminhada,

Já com a idade passada,

Iniciou seu primário!

Com muito esforço,

Ali na escola samaritano,

Fez os dois primeiros anos,

Pra cumprir itinerário!

Pois transferiu-se,

Pra escola Duque de Caxias,

Também na periferia,

Ali mostrou seus valores!

Naquela escola,

Ficou bem reconhecido,

Foi por dois anos escolhido,

Por todos os professores!

Nesse colégio,

Era feito todos os anos,

Em homenagem ao patrono,

Um trabalho diferente!

Onde o aluno,

De trabalho mais bem feito,

Tinha ele por direito,

A um bom prêmio realmente!

Mas as façanhas,

Estavam só no começo,

Pois todo esforço tem preço,

Assim ficou constatado!

E novamente,

Um bom prêmio conquistou,

Mas dessa vez que ganhou,

Foi em nível de estado!

Uma linda bicicleta,

Foi o prêmio que ganhou,

Das mãos do governador,

Pessoalmente recebeu!

E junto a ela,

Tinha o prêmio em dinheiro,

Uma Cédula de cem cruzeiros,

Que o governador lhe deu!

No auditório,

De um tal Carmela Dutra,

Trajando uma calça curta,

Ficou um tanto assustado!

Ficou perplexo,

Ao ver aquela galeria,

Em todas as categorias,

Trabalhos ali mostrados!

Passou-se o tempo,

E o menino sonhador,

Resolveu ser professor,

De seu estado natal!

Hoje formado,

Na área de geografia,

E leva o seu dia a dia,

Como um cidadão normal!

Cabeça feita,

Já com cabelos grisalhos,

Como herança do trabalho,

Na sofrível profissão!

Quanto aos sonhos,

Ficaram na longa estrada,

Hoje já não sonha nada,

É apenas recordação!

Pobre menino,

De quem se conta a história,

Ainda tem na memória,

As lutas que enfrentou!

Vive tranqüilo,

Mesmo sem ter alcançado,

O sonho tão esperado,

Esse sou eu meu senhor!

Cosme B Araujo.

18/07/2013.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 18/07/2013
Reeditado em 18/07/2013
Código do texto: T4392799
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