MONÓLOGO.06 ( Prantos de um Boiadeiro ).

Há que saudades,

Daquele tempo de outrora,

Quando ao romper da aurora,

Ia o gado campear.

Quando arriava,

O meu cavalo petisco,

Pequenino mas arisco,

Campo a fora a galopar.

Todas as manhãs,

Bem cedo da madrugada,

Já tinham vacas peadas,

Pronta para Desleitar.

Mas hoje em dia,

Já está tudo diferente,

O progresso tomou frente,

Não me deixa trabalhar.

Lembro Zé rosa,

Um peão muito arrojado,

Próprio para contar gado,

Quando chegava a boiada.

Vive encostado,

E não tem mais serventia,

Passa suas noites e dias,

A olhar para a estrada.

Com a chegada,

Dessa tal modernidade,

E o progresso tão covarde,

Tirou a nossa alegria.

Deixei meu mundo,

De tanta tranqüilidade,

E vim morar na cidade,

Em uma periferia.

Lembro saudoso,

Dessa minha profissão,

Quando a lida de peão,

Era um serviço honrado.

Criou-se estrada,

Caminhões e carreteiros,

E o velho boiadeiro,

Hoje deixou-se de lado.

Marejo os olhos,

Quando lembro as festanças,

Da velha vila esperança,

No encontro da peonada.

Ali travava-se,

Rodeios e montarias,

E o negro ventania,

Dava show de gineteada.

Hoje estou velho,

E sempre vem-me a memória,

De mágoa meu peito chora,

Na função de capataz.

Virou empresa,

Todo esse chão brasileiro,

E o trabalho do vaqueiro,

Quase não se pede mais.

Quando eu olho,

As carretas na estrada,

Levando nelas as boiadas,

Entristece-me o coração.

Sinto a angústia,

Ao pensar no sacrifício,

Que vivi nesse serviço,

Nos caminhos do sertão.

Vejo com orgulho,

Meu berrante pendurado,

Há muito tempo guardado,

Servindo de testemunho.

E o meu laço,

De couro duro dobrado,

Em oito pernas trançado,

Tem a marca de meus punhos.

Também fica ali,

A velha capa de couro,

Meu par de esporas de ouro,

Prêmio ganho por direito.

De um torneio,

Que ganhei em aparecida,

Quando com as mãos erguidas,

Soltei o grito do peito.

Quando recordo,

De todas essas façanhas,

Daqueles animais com manhas,

Que passou por minhas mãos.

Que sem sobroço,

Cortava o bicho na espora,

Que ele em poucas horas,

Suava de pingar no chão.

Pra nós vaqueiros,

Não tinha boi marruá,

Que viesse se amoitar,

Mesmo na mata fechada.

Era bonito,

Ver um bando de vaqueiro,

Perseguindo o mandingueiro,

Deixando a fera cercada.

Porém agora,

Nada disso interessa,

Ficou comigo as arestas,

Da lida que tanto amei.

Na minha idade,

Já não posso mais montar,

Restando apenas lembrar,

Dos tempos que campeei.

Cosme B Araujo.

26/05/2013.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 27/05/2013
Reeditado em 04/06/2013
Código do texto: T4311315
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