CAMINHOS TORTOS
Só Deus mesmo
E pensar que ele é tudo
Que nos falta...
Somos todos mutantes
Adequamos-nos as indiferenças
Tudo que brilha no frio
Também fervilha noutra crença
Há um espaço pra cada um
Nesta aldeia imensa
Somos andarilhos das estrelas
Cada ser tem sua cadeia
Sua ideia sua teia
A felicidade como a lua
Quanto mais intensa e cheia
Tanto mais rápida míngua e escasseia
O miserável nunca se pergunta
Porque o colocaram no mundo
Apenas vive suas misérias
Como se não as existisse
Parece que sonham por fissuras
Em noites escuras quando a esperança finda
Expunge-se a esperança nos rastros da areia
Há muito mais dor que vagueia
Do que se possa se supor na cumeeira
O rancor é um câncer
Que se enraíza no ser
Nos ramos empedrados brotam amargor
O que somos se não vácuo
A vida em sua plenitude do nada é quase nada
Nada somos se não ribossomos
Física quântica e passageira
A terra é um ovo
Nela eclodimos e surgimos do nada
E para o nada vamos viajando
De nada em nada vamo-nos drenando
Diminuindo uns que noutros vão se somando
Estranha evolução
Mais nada muda tanto nesta escadaria
Quanto o verso e o reverso da medalha
Vidas mudam a cada dia dentro e fora das muralhas
Um minuto às vezes muda tudo
Um minuto e o nada silencia o morto mudo
É como água se esvaindo pela calha
É a poesia da morte e da vida o elo da batalha
Que passa pelo calvário do tempo como rasga mortalha
Sem se empedrar nos templos
Tudo é poesia pura
Um poema é um beijo
Uma orquestra humana
Um desejo que se funde ao vento da inspiração
Um sopro seráfico diria até um lírico rasgo
Uma batuta em plena orquestração
Um raio que se alumia na imensidão
Em constante e imaginária mutação
Perpetuamos-nos dentro dos outros
Nossa espécie é nossa misera inspiração...
Na canção que o vento espalha moribundo
Nos epitáfios decompostos do mundo...