MONÓLOGO: 05.(preconceito).
Professora Flavia!
Ta vendo aquele menino,
Ali no banco sentado,
Parece desconfiado,
Nunca o vejo sorrindo!
Está sempre pelos cantos,
Há não me diga Cibely,
Vou agora investigar,
Espero ele me contar,
O que se passa com ele!
Olá Alfredo tudo bem?
Ta gostando da escola?
Já escolheu seu lugar,
A aula vai começar,
Não pode ficar aqui fora!
Minha nossa! Sua camiseta!
Está com a manga rasgada!
Por favor, venha cá,
Vou tentar lhe arrumar,
Uma que tenho guardada!
Quero não professora!
Eu vou parar de estudar,
Aqui não tenho amigos,
Tantos implicam comigo,
Não me deixam descansar!
Já estou desanimado!
Penso até que é castigo,
Eu não mexo com ninguém,
Mas sempre aparece alguém,
Para invocar comigo!
Hoje mesmo ao chegar!
Mal no portão tinha entrado,
Uma turma de meninos,
Tinham cara de granfino,
Chamando-me de favelado!
Agora estou entendendo!
O que minha mãe vivia a dizer,
Filho não esqueça um segundo,
Que há tanta gente no mundo,
Que amam nos fazer sofrer!
Sabe de uma coisa professora?
Lá onde moro é diferente,
Na nossa comunidade,
Somos uma irmandade,
Sou tratado como gente!
Ninguém se julga melhor,
Ali todo mundo é igual!
A gente brinca e se diverte,
Não se repara o que veste,
Quer se vista bem ou mal.
Lá eu não tenho vergonha!
De me vestir desse jeito,
Lá um short é roupa chique,
Entre nós não se admite,
Esse tal de preconceito!
Às vezes penso que minha cor,
Faz isso acontecer comigo!
Pra essa sociedade,
Capitalista e covarde,
Qualquer negro é bandido!
A senhora é diferente,
E me Deu toda atenção,
Mas aqui têm alguns poucos,
Que estão mais pra ser loucos,
É essa minha opinião!
Estudo aqui faz um mês,
E ninguém me pergunta nada,
Se eu gosto de brincar,
Até para estudar,
É uma dura parada!
Esses dias ainda me lembro,
Na aula de português,
Só porque não entendia,
Algumas alunas riam,
Dizendo ele é inglês!
Eu me senti humilhado,
Com essa colocação,
Só por que sou diferente,
Por isso constantemente,
Sofro de perseguição!
Saiba que aqui não consegui,
Eu só queria respeito,
Então prefiro ir embora,
Peço licença a senhora,
Acho que tenho direito!
Imaginava que escola,
Era um lugar diferente,
E todos que aqui entrasse,
Um bom lugar encontrasse,
De pessoas sorridentes!
Mas o que vejo professora,
Ta Longe do que imaginei,
Olhando pra todo lado,
Vejo tantos estressados,
Por qual causa ainda não sei!
Sonhava em ser um médico,
Pra ajudar os mais pobres,
Que sofrem iguais a mim,
Uma dor que não tem fim,
Nas mãos da tal classe nobre.
Era o que eu mais queria,
Desde a minha infância,
Mas cada dia que passa,
Diante dessa ameaça,
Morre a minha esperança!
Até na educação física,
Vejo nos olhos estampados,
Acham-me diferente,
Por ser negro não sou gente?
Sinto-me desamparado!
As pessoas não entendem,
Nem sabem o meu dia a dia,
Nos becos de uma favela,
Por caminhos e vielas,
De uma periferia!
Sou órfão desde os seis anos,
Numa vida desgraçada,
Foi quando fiquei sozinho,
Sendo salvo por vizinho,
Numa noite de enxurrada!
Estava-mos todos dormindo,
Quando o barranco cedeu,
E todos da minha família,
Foram-se nesse dia,
Escapando apenas eu.
Já estou com treze anos,
Vivo a catar papelão,
O quilo é vinte centavos,
Ando eu e seu Gustavo,
A juntar lá no lixão!
Está vendo esse caderno,
Grosso e todo inchado?
Foi porque molhou na chuva,
Que peguei na Bocaiúva,
Eu fiquei todo molhado!
O que mais me entristece,
É ver tantas grosserias,
Por pessoas que não sabem,
Da minha realidade,
Nessa terrível histeria!
Tenho esperança que um dia,
Se extingam o preconceito,
Assim talvez o ser humano,
Deixe de ser desumano,
E trate todos do mesmo jeito!
Agradeço à senhora,
Por ter me dado atenção,
Meu caminho vou seguir,
Mas isso aqui não é pra mim,
Sinto-me na exclusão!
Cosme B Araujo.
09/03/2013.