MONÓLOGO: 01.( Lamentos e Desilusões ).

Que faz aqui lavrador?

Parece-me meio tristonho?

Onde estão as alegrias,

Que tinhas todos os dias,

Em teu semblante risonho?

Onde está o teu sorriso?

E aquela disposição?

Que a todos contagiavas,

E nada o enfadava,

Quando na lavra do chão?

Há! Vivi preparando a terra,

E a semear nela o grão,

Assim eu homem do campo,

Pude conter o meu pranto,

Ao granjear suado pão.

Lacrimejei ante a geada,

Morri ao cair da plantação,

Tão só aos céus peço ajuda,

Porque tal sorte não muda!

Desvalesse-me o coração.

Há! Quando a seca o ataca,

E a plantação esmorecia,

Olhava o céu desiludido,

Co’meu semblante abatido,

Mas minha fé permanecia.

Na angustiante realidade,

Morrem plantas e animais,

Que o humilde lavrador,

Apega-se a seu vigor,

Por miséria contumaz.

Acaba-se o alimento,

Vai a luta em meio a sequidão,

Ao ver secar as nascentes,

Na terra morre a semente,

Parece até maldição.

Ouço o canto de tristeza,

Dos inocentes passarinhos,

A voar desesperados,

Parecendo preocupados,

A cuidar dos filhotinhos.

Vejo o choro de juriti na mata,

E o Piar triste do gavião,

Que mesmo sendo predador,

Perde das asas o vigor,

Ante a feroz sequidão.

As vaquinhas campineiras,

Vão aos poucos emagrecendo,

Não há mis manteiga e queijo,

Nem leite para os bezerros,

Que de fome estão morrendo.

Terra nua escaldante,

Nenhum verde pode ver,

Na Desolação impetuosa,

Sente sorte não ditosa,

Por suas veias correr.

Mas quando olho para céu,

E vejo as nuvens carregadas,

Vem-me ao coração alento,

Pra fugir do sofrimento,

Que me aflige na jornada.

Olho os pingos da chuva,

Sobre a terra a cair,

Sinto os meus olhos brilhar,

Vejo a terra a se banhar,

Canto a vida ressurgir.

Regozija-me ao ver nascendo,

O tenro rebento da semente,

Revigoro-me na esperança,

Serão tempos de bonanças,

Assim canto alegremente.

A terra me consome os dias,

Chega-me o fim da jornada,

Agora sou velho e demente,

Co’minhas forças ausentes,

Olhos e vistas cansadas.

Minhas pernas estão trêmulas,

E os meus pés vacilantes,

Não sou como antigamente,

Sujeito forte e valente,

O batalhador de antes.

Meus olhos já não divisam,

As belezas dessa terra,

Nuvens cobrem-me o rosto,

Já não me sinto disposto,

Hoje a planície me é serra.

Contemplo já bem de longe,

A arte de meu labor,

A frouxidão de meus braços,

E a distorção do cansaço,

Que o oficio me deixou.

Já estou no fim da lida,

O fim da saga chegou,

Pois é chegado o momento,

De oficiar meu lamento,

Vida que o tempo levou.

Já o túmulo me espera,

Pois cumpri minha missão,

Resta-me apenas esperar,

E a essa terra retornar,

Ao frio leito deste chão.

Cosme B Araujo.

21/02/2013.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 21/02/2013
Reeditado em 02/03/2013
Código do texto: T4151869
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