SIM OU NÃO ?
Acessórios no corpo, sim ou não?
Na terra ou na água ou no ar,
Eis nesta passarela grão questão,
Competindo na hora o perguntar
Se é justo, se é real ou ilusão
Ou se apenas um vão engalanar.
O corpo dos humanos, lés a lés,
Com gestos de verdade e de emoção
Tem sincronia da cabeça aos pés
Não servindo p´ ra nada a encenação.
Quanto maior é o peso que houver
Maior a reacção se manifesta
E se nisso há ou não algum mister
Ficará a vantagem bem modesta.
Porque é que não os há p´ ra não falar,
Porque é que não os há p´ ra não ouvir,
Porque é que não os há p´ ra não olhar,
Porque é que não os há p´ ra não sentir?
Porque é que não os há p´ ra não comer,
Porque é que não os há p´ra não chorar,
Porque é que não os há p´ ra não sofrer,
Porque é que não os há p´ ra não pensar?
Acessórios no corpo, com franqueza,
E é tão grande seu uso e frequência
Que colhe uma ilusão e uma estranheza
Acabando mais tarde em dependência.
Quem usa de acessórios mais vistosos,
Ponderando acrescer a qualidade,
Torna-se rei em meios orgulhosos
Em falsa sensação de propriedade.
Ó vós, que sois utentes virtuais,
Numa odisseia curta de memória,
Gozai os acessórios naturais
Naquela onda triste ambulatória…
Chegareis, com certeza, à conclusão,
Ao serem instrumentos de trabalho,
Que vale a pena, p´ lo sim ou p´ lo não,
Servir-vos deles só como agasalho?
E se a vós vos faltar o carburante
Que impeça de seguir caminho certo,
Não vos dando prazer justificante,
Ide por outro muito mais directo
Que atinja o destino num instante
Em harmonioso corpo de projecto!
Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE