SEM RIMA 297.- ... sobre literatura ...
São relativamente frequentes
com algum amigo e amiga
as conversas sobre que possa
ser literatura.
Eu, ignorante de quase tudo
e por esta causa, opino com clareza
que literatura é aquilo que a gente
estima ser literatura.
Preciso mais: um texto
é literário se autoridades
decidem declará-lo literário.
Em regra as gentes as seguem.
Outro tema de conversa adoita* ser
o relativo à condição biográfica
de qualquer texto, à partida,
literário.
Decerto todo o texto que alguém escreve
arraiga na pessoa, nos sentimentos,
nas ideias do escritor. Inclusivamente
se o escrito não fosse concebido
como literário.
Contudo, o texto destinado
a entender-se como quota-parte
do segmento cultural dito literatura
deixa de ser biográfico "a radice".
Por que esclarecedoras razões?
Muito singelamente porque (quase) nunca
as notícias biográficas costumam ser primordiais
e, se o forem, apenas o serão na superfície.
O só facto da distância temporal, de anos
e séculos até, entre autor e leitor** faz
com que o leitor ignore ou se desentenda
dos particulares dados referidos ao autor.
Assim opino, cada vez mais certo
de estar no certo. Pode ser provado
aqui e agora com qualquer das obras,
maiores ou menores, colocadas
neste "Recanto das Letras".
E a seguir falamos...
::::
(*) "adoitar" v. tr. (1) Estar habituado a. Ter por costume. Acostumar. (2) Persistir.
(**) Onde digo "autor" e "leitor" pude dizer "autora" e "leitora". Compreendam as recantistas que o costume gramatical se acha muito arraigado, em geral.