Liquidificador da vida

Amigos, admiradores ou sofredores

Ainda perguntam-me, vez outra,

Se parei de escrever... no Recanto..

Respondo com um olhar significativo..

Não parei, nunca paro, nunca consigo parar...

Como aquele pássaro que perdeu as patinhas,

E é forçado a voar eternamente,

Até à morte... Sou eu, também..

Condenado a escrever...

Até depois da morte...

Nunca paro, nunca descanso, mesmo lamentando,

implorando a Deus que me dê um descanso...

Ele jamais atende a esta, e as milhares de outras, minhas

preces...

Prossigo triturando as ideias, as lembranças

as experiências, os sofrimentos, as alegrias, os amores e

dissabores em um mesmo liquidificador da vida...

e oferecendo esta bebida aos admiradores, sofredores,

que tiveram a infelicidade de, ao cruzarem comigo, colarem

suas vidas e parte de suas asas de borboletas, em mim, na minha vida...

Elas também nunca conseguem voar para longe de mim..

Estão aqui, colados a mim... inebriadas por esta bebida que lhes

ofereço com um sorriso de sacarmos vingativo, por poder

fazer-las sofrerem também, comigo, o fel da vida...