FANTOCHES DE CARNE
O que somos diante dos vermes
Se eles silenciosamente nos aguardam
Com a paciência de Jó
Escravos de Jó tudo é do pó
Somos passageiros contidos de nada
Prazo de validade vencendo todos os dias da rotina
Já viemos indo embora
O que há em nossa retina
Se não restos dos dias
Rostos se definhando
Labirintos dos dias findos
Carimbos nas digitas frias
Moribundos das noites traiçoeiras
Não nos deram opção além de poeiras
Só a entrega e o martírio o resto é vão
Somos fantoches da decomposição
Não há nada mais sábio que o nada
O mundo é uma passarela
E nós somos os manequins de pele amarela
Nos cevamos e ceifam nossa hora
O caçador de capuz negro com a sua foice na mão
Nos corta o fio como um balão esvaziamos
É preciso ter sapiência diz o céptico
Ter os pés no chão
Cabeça, tronco e membros eis a verdade!
É o preço da vaidade que nos cobra a vaidade
Vaidade tudo o mais é vaidade
Veleidade da vida que desovamos em covas
Como massas sovadas
Somos bolos de barro
Alimentos mortais
E a vela ainda se acende
Nas olimpíadas do desencarne
Na ascensão dos antepassados
Dos ritos finais...