VENHA-ME… MAS TRAGA-ME FLORES

Não venha-me dizer do que tenho a sentir.

Sinto o que eu quero. Sou livre como folha seca ao vento.

Já atravessei muitos “desertos” áridos…

E nem sempre havia água limpa para beber… banhar o rosto.

Refazer-me da minha vergonha. Nem sempre.

De bom e inocente… apenas meus filhos.

A melhor parte de mim. Meu único feito que o qual amo… visceralmente.

De resto… sem nada muito diferente. Muito trivial.

Casei-me duas vezes.

Uma delas com véu, grinalda e sonhos. Sem barriga.

Magrinha, fútil e desenxabida. Sim. Já fui fútil e vil.

Mas comigo mesma. Não com os outros.

Não gostava de mim. Nem me conhecia… queriam conhecer-me!

Ora, façam-me o favor. Mais respeito ao que não conhecemos!

Dois filhos vieram… desejados e lindos.

Mas o pai deles também era meu “pai”…

No meu imaginário de ausências antigas.

Não. Não poderia dormir com o meu “pai”.

Jamais daria certo esta inversão de papéis que durou quatorze anos.

Casinha de bonecas. Vestidos de princesa. Alma de mendigo.

Mendigava amores… dores que fossem reais. Vida pulsando!

Nada… vazio. Oco do mundo e perfume francês… Asco de mim.

Era apenas um grande amigo. E ainda o é. Ainda bem!

No segundo casamento… inconsequência.

Desepero e dor habitavam em minha solidão. Ganhei outro nome! Puxa!

Hum… Sempre achei que não cabia no meu nome aquele sobrenome.

Que coisa chata esta coisa de mudar de nome. E ainda era eu.

Talvez eu tentasse mudar algo com isto… Não sei ainda.

Vou pensar sobre isto qualquer dia durante o banho.

Era solidão. E era só minha. Estava sozinha sim! E era sempre noite!

A violência absurda andava de mãos dadas comigo.

Não soltava-me. Guiava-me os passos “amarrados”…

E querem mesmo saber?

Eu não tinha medo da morte. Eu já era. E já estava.

Mas não calei. Gritei aos quatro ventos do mundo!

O vento soprou da boca de Deus… e ele se foi.

Assim… como veio. E eu já estava dormente. Meio louca.

Louca e sã. Mas posso dizer que cresci. Um contra-senso.

Havia dias que não havia água.

Queria apenas um cigarro e lavar a minha vergonha.

Arrancar de mim a dor da submissão cega em absoluto. Luto?

Não… Festa! … Fez-se festa em mim!... Mas ninguém dançou.

Apenas eu. E foi maravilhoso! Todos os ritmos com Coca Cola.

Coca Cola sem gelo. Mas gelada, por favor.

O gelo derrete e a Coca Cola fica pior.

Depois bebi muito… Bebi tudo. Desci ladeiras íngrimes.

Bebi a mim mesma. Mas sem gelo.

Companhias passantes… ao todo… foram cinco.

Os que guardo na mira da minha ira?… Dois. E de mim também.

Mas vou pensar em perdoá-los assim que eu apagar este cigarro.

Companheiros?… companheiros foram dois também.

Dois. Deve ser meu número de sorte.

Nunca tinha pensado nisto.

Então… não venha-me falar do que devo sentir…

Do que devo pensar… Quando parar de pensar…

Como e que horas dormir. Deixa-me submergir… deixa-me!

Mergulho na vida… ponta da lança.

Prefiro ferir-me assim… mesmo sem intenção.

Mas sabem… já são quase quatro da manhã.

Um dia… quase morri de dores.

Hoje… de amores.

Deixa-me morrer de Amores… Traga-me flores!

Rosas Vermelhas… E deixa-me em paz.

Karla Mello

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 20/09/2011
Reeditado em 05/10/2017
Código do texto: T3231541
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.