CONTRASTES

Tá tudo tão inverso

O cotidiano urbano

Prisão suburbana

Cinzentas manhãs

Versos implodem

Concretudes e ferros armados

Prédios em vergalhões

Condomínios prisionais

Reverberam sufocados

Dentro do concreto arnmado

De um lado o espasmo e a fome

Os beduínos pelas janelas do carro

Olhos famintos

Sobrevivência

Instintos!!!

Olhos grudados

Amedrontados

O que somos

Carrinhos lotados

Egos inflados

Contrastes...

Que nação é essa

Conversas e sussurros

controvérsias

Tanta contradição

Encenação

A palavra cortante

O verbo desnutrido

O grito gemido abafado dormido

Morrem mil

Nasce um milhão

Peregrinos do asfalto

Turbilhão passageiro suburbanos

Na noite cresce a barriga

Tudo acontece por trás dos panos

Uns se chamam de manos

Outros são “manés”

Expectoram devassidão

Velho mundo cão

Olho na noite escura

Um pássaro de alva brancura

Penso ser por um lampejo

Uma pomba da paz cortando o céu

Esperanças à granel

Mas é só o grasnar de uma ave noturna

Que sai à caça como a caneta

Caçando letras no branco papel

A canção das ruas

É uma só em duas letras

Dó.