Manhã calçada adeus

Manhã, cá entre nós, manhã burguesa, o frio passou

as pessoas saem, as pessoas compram.

Nas fabricas, uma réstia de luz que ilumina

os que vivem do trabalho e do salário e da exploração.

Nas ruas, pessoas ou caixinhas em que outras pessoas depositam [esperança

desnecessário dizer fome, desigualdade, basta sentir.

As calçadas ainda estão repletas daquelas faixas pretas de ladrilhos

que quando criança brincávamos de saltá-las, porque nossas pernas [eram pequenas.

Hoje é uma simples beleza despercebida, ante a otimização do tempo,

do sonho esquecido, do vento que nos empurra na direção contrária [de uma utopia.

Manhã manhã clara: escura. Sozinho vazio entre tantas pessoas.

E quando preciso do afago afeto, resta-me a indiferença, silêncio: [como pedra que acerta

em cheio minha cara, ah minha cara, camarada.

Perdido na cidade ou na rua ou na quitanda ou, enfim, no tempo uma saudade de pai de irmão de amor, uma saudade (ou quase esquecimento ou quase). Ladrilho preto que absorve as lágrimas do ontem do amanhã, amigo intato concreto pedra conselho, silencio, mais silêncio, sem carinho.

Cinza a manhã

Cinza a cidade

Cinza a casa onde mora

Cinza a menina

Cinza teu agir pequeno e teu medo.

Quero a embriaguez pois o sentir a-histórico não me cabe e a sanidade quando alienada é a pior bebedeira. Parto nesta manhã para longe para além da saudade esquecimento negação da negação

para a cidade para casa para rua para o ladrilho para o sonho para o labirinto, adeus.

Gabriel Furquim
Enviado por Gabriel Furquim em 07/08/2011
Código do texto: T3145637
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