O OBSCENO E O SAGRADO

O O B S C E N O E O S A G R A D O

Uma metade de lençol cobre a realidade

Uma criança balança as pernas no penhasco

Ponderam: para que tatuar pétalas nas nuvens?

A espuma é obscena

O creme é sagrado

Um anjo faz descer goela abaixo um gato

Uma pulga terá seu cérebro embalsamado

Todos os fantasmas são lilases

O vento é obsceno

A amnésia é sagrada

Um soldado exorciza uma senhora sem unhas

Uma fada vomita dentro do ônibus

Há uma memorável desculpa no poder

O milagre é obsceno

A diarréia é sagrada

As prostitutas não cobram se sentirem prazer

O governo tem a honestidade petrificada

Os caçadores maceram os algarismos da magia

Gemer é sagrado

Considerar é obsceno

Vê-se uma orgia naquele álbum de família

Os cisnes invejam o musgo na coxa da virgem

A vergonha adula o pijama úmido de esperma

O sexo é sagrado

A escolha é obscena

Um cadáver de gravatas está ao sol

Perplexo contempla uma rachadura no céu

Um esqueleto dança uma valsa em ziguezague

A música é obscena

A máfia é sagrada

Na vitrine há fezes em exposição

Na ingênua culpa ilude-se a mulher

Na religião vê-se uma férrica ganância

A criatura é obscena

O deboche é sagrado

(fevereiro/2002)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 02/08/2011
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