TECENDO E BORDANDO

T E C E N D O E B O R D A N D O

Ah! Se não fosse tão difícil governar!

Obedece-se quem faz e rende-se!

E reina que conta, o tecelão

Meu reino é um faz-de-conta, sou avatar

EU? Faço pouco caso do que conto

Sou rei endividado de possibilidades

E milionário de passividade

Aqui a realeza jamais perde o sobretudo

Tecido ou tricotado?

No veludo da ionosfera vou me tecendo

Mesmo não compreendendo sou irredutível, teço

Com mãos metálicas bordo o firmamento de estrelas

A festa acabou na anti-matéria, escorreu

Desafio a combustão da gasolina

Plano contra a gravidade

A imensidão da distância não me refreia

É pequena a velocidade sustentada

E medonha a vontade consumida

Ejaculo uma gota de saber sem complexidade

Não sei se colossal ou absurda; anulou-se

Das veredas percorridas nasce a velhice

Os liames no tear dão consistência no que fazer

O ócio dá os primeiros estertores

Torna-se rotina e se imuniza

O peixe-agulha move a barbatana

A arraia balança o ferrão

O escorpião crava o dardo

A cegonha tem a cesta urdida

A vaca não borda nem bilra, berra

Já a aranha não fia, tece

Vários nós tende a ser crochê

Bainha desfiada não é renda

Eu pinto e bordo

(setembro/1998)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 13/07/2011
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