TECENDO E BORDANDO
T E C E N D O E B O R D A N D O
Ah! Se não fosse tão difícil governar!
Obedece-se quem faz e rende-se!
E reina que conta, o tecelão
Meu reino é um faz-de-conta, sou avatar
EU? Faço pouco caso do que conto
Sou rei endividado de possibilidades
E milionário de passividade
Aqui a realeza jamais perde o sobretudo
Tecido ou tricotado?
No veludo da ionosfera vou me tecendo
Mesmo não compreendendo sou irredutível, teço
Com mãos metálicas bordo o firmamento de estrelas
A festa acabou na anti-matéria, escorreu
Desafio a combustão da gasolina
Plano contra a gravidade
A imensidão da distância não me refreia
É pequena a velocidade sustentada
E medonha a vontade consumida
Ejaculo uma gota de saber sem complexidade
Não sei se colossal ou absurda; anulou-se
Das veredas percorridas nasce a velhice
Os liames no tear dão consistência no que fazer
O ócio dá os primeiros estertores
Torna-se rotina e se imuniza
O peixe-agulha move a barbatana
A arraia balança o ferrão
O escorpião crava o dardo
A cegonha tem a cesta urdida
A vaca não borda nem bilra, berra
Já a aranha não fia, tece
Vários nós tende a ser crochê
Bainha desfiada não é renda
Eu pinto e bordo
(setembro/1998)