ROENDO UNHA
R O E N D O U N H A
Na aflição dedo na boca
Na espera rói a unha
Na felicidade comemora-se roendo
Na tristeza lá está o dedo
Na comodidade sem mais nem por que
No ódio dá calor no sangue
No amor não se faz por menos
Não ingratidão, pouco se me dão
Impõe-se como uma precisão
Policiar-se não é a solução
Sojigar-se também não
Há que sujeitar-se a gozação
Quase sempre é um ato involuntário
Expõe-se tal qual otário
Faz-se! Nem pensa
Não existe motivo; é mania!
É loucura?
Não dentro dos padrões
É masoquismo?
Não, apesar de sentir dor
É vexatório?
Sim pelo os trejeitos
É relapso?
Não, é reflexo incondicionado
É natural?
Sim, não atrapalha
É controlável?
Não, é impensado
Só pode ser doença!
É contagiosa?
Não! É psicose bacterivirótica
Existem remédios?
Sim! Amargos e ardidos
Não é impossibilidade orgânica
Ação leva a reação; roer
(outubro/1996)